Depois de um longo período em que ficaram longe dos olhos do público, as obras de Poty Lazzarotto (1924–1998) encontraram um espaço de exposição, no Museu Oscar Niemeyer (MON). O legado do artista foi doado pelo irmão, João Lazzarotto, para o museu e está exposto parcialmente desde o fim de outubro.
O acervo que agora pertence ao MON tem 4,5 mil obras, segundo a divulgação oficial, e cobre toda a produção artística de Poty, que começou na infância, quando ele desenhava histórias em quadrinhos com um talento de profissional. Poty foi precoce e seu talento foi logo reconhecido, o que lhe valeu uma bolsa de estudos no Rio de Janeiro e, mais tarde, outra para uma temporada em Paris.
No MON, o acervo está exposto em dois espaços na torre do Olho, onde a combinação de obras será renovada ao longo do tempo, compondo sempre novos recortes. A exposição atual, chamada “Poty, entre dois mundos”, tem a curadoria de Maria José Justino com a assistência de Juliane Fuganti.
Poty Lazzarotto
O espaço que a exposição de Poty ganhou no MON é frustrante diante da importância dele para o Paraná e para o Brasil. São duas salas que funcionam como passagem para quem vai ao Olho. Faria sentido ter havido uma exposição inaugural maior para marcar a chegada do grande artista ao grande museu. Provavelmente, a agenda do museu não permitiu.
No recorte do acervo de Poty em exposição no MON, as obras estão organizadas em ordem cronológica e incluem muitos esboços, inclusive alguns feitos em pedacinhos de papel e, ainda assim, memoráveis. A habilidade do desenhista é espantosa. Ele experimentou diferentes temas e abordagens, que foram se tornando mais limpas e fortes.
Em uma sequência de desenhos eróticos, vemos cinco cenas produzidas com caneta hidrográfica que retratam militares com muitas medalhas na farda e pelados da cintura para baixo. Eles dançam com mulheres nuas em uma típica cena de bordel. Ano de produção: 1967. Também há imagens de guerras, cenas bíblicas e registros feitos no Xingu quando Poty visitou algumas tribos da região a convite dos sertanistas Orlando Villas Boas e Noel Nütels. É impossível não imaginar a riqueza dessa experiência em que três homens excepcionais se expuseram juntos à realidade de grupos indígenas do Brasil Central.
Curitiba
A relação de Poty com o Paraná, e especialmente com Curitiba, é uma bênção e uma maldição. Bênção porque ele usou seu talento para registrar as coisas daqui e esse registro foi feito com um nível artístico que nos transforma em privilegiados no contexto nacional. Mas é também uma maldição porque, ao ser encampado pelas administrações públicas e colocado em praças e repartições, seu trabalho virou parte da paisagem e deixou de gerar curiosidade entre gerações mais jovens. Poty passou a ser sinônimo de araucárias e pinhões, de imagens da Catedral e da Igreja da Ordem. Não é culpa dele, que fez muito mais que isso, como atestam seus desenhos que podem ser vistos no MON e em velhas edições de livros de grandes autores brasileiros.
Exposição
“Poty, entre dois mundos”, no Museu Oscar Niemeyer – MON (Avenida Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico). Em cartaz na Torre do Olho. De terça a domingo, das 10h às 18h (entrada permitida até 17h30). Ingresso: R$ 30 e R$ 15 (meia).