Podcast “Ilha Quadrada” mostra como começar a curtir música clássica

Na primeira temporada, Adriano Brandão faz um passeio por grandes compositores e ajuda a entender conceitos básicos enquanto ouve boa música

Adriano Brandão é um dos grandes nerds que já passou por Curitiba. Gênio da programação e da informática, foi ganhar a vida com isso. Mas nas horas vagas ele tem uma missão, mais ou menos como os irmãos interpretados por John Belushi e Dan Aykroyd em “Blues Brothers”. E assim como no caso deles, a missão tem a ver com música.

Desde que conheci o Adriano mais de vinte anos atrás, ele já criou vários projetos para difusão da música clássica. O Allegro era um fórum genial, por exemplo. Agora ele tem um aplicativo muito bacana pra quem gosta de ouvir música no streaming. E o novo projeto é um podcast pra lá de simpático em que ele explica conceitos básicos de música do jeito mais divertido possível: mostrando a música.

Na primeira temporada você aprende sobre a orquestra, sobre composição, sobre formas ouvindo gente como Villa-Lobos, Beethoven e, claro, Carl Nielsen, o eterno favorito do Adriano. O podcast consegue ser básico sem infantilizar o ouvinte, uma tarefa difícil mas que, graças ao tom escolhido, fica parecendo moleza.

De onde veio a necessidade de fazer esse podcast?
Eu faço podcast há anos, e recentemente fundei com mais dois sócios uma produtora de podcasts, a AD&D Studio. E meu tema favorito da vida é música clássica. Já fiz fórum, já fiz blog, já fiz app… parecia natural que eu produzisse um podcast sobre música clássica. O Danilo, meu sócio na produtora, e, principalmente, a Hanna, minha namorada, me incentivaram muito, desde sempre, a produzir algo assim. Então arrisquei!

Você claramente não quer falar com músicos ali. Mas precisa ter um conhecimento mínimo pra entender do que você está falando?
O Ilha é pra ouvintes. Mais ainda, é principalmente pra ouvintes que nunca ouviram música clássica na vida. A ideia toda é responder: o que é música clássica e o que alguém deveria ouvir pra começar? Então, não, não precisa de conhecimento mínimo nenhum pra ouvir e entender o podcast.

Cada peça que você toca ajuda a explicar algo. Como você fez a seleção?
A coisa toda começou com a lista de obras. Isso foi há alguns anos, quando o regente Joshua Weilerstein, que apresenta o podcast Sticky Notes, fez um episódio com as 7 obras que ele achava boas para iniciantes. Eu fiz a minha própria lista no Twitter, e ela é basicamente a temporada do Ilha Quadrada. O lance é que, enquanto eu escrevia os roteiros, eu fui percebendo que algumas obras da minha lista estavam redundantes em termos de variedade e “potencial didático”, digamos assim. Dois episódios foram trocados: estavam inicialmente previstos episódios sobre “O aprendiz de feiticeiro”, de Dukas, e sobre “Os planetas”, de Holst. Eles foram trocados pelos episódios sobre o Quarteto “Americano” de Dvorák e sobre “O anel do nibelungo” de Wagner. O resto, mantive. Eu montei a lista ignorando completamente a fama dos compositores. O objetivo era mais passar conceitos através das obras do que efetivamente apresentar os famosões, um cânone, ou algo assim.

Você faz uma bela defesa que música clássica é só música escrita. Mas será? Trilhas sonoras são escritas, e na verdade qualquer coisa pode ser. Será que não precisa estar também dentro de uma tradição?
Acho que eu comento logo no primeiro episódio, sobre o Villa-Lobos, que música clássica é uma tradição europeia escrita. É um troço voluntário, eletivo, que acontece por opção: o Villa-Lobos quis participar dessa tradição e foi por isso que ele enfiou os índios e o Catulo da Paixão Cearense em versões estilizadas numa peça sinfônica, e não em outra coisa qualquer.

A parte da escrita é fundamental. Ela explica porque a tradição da música clássica é assim, assado. Porque uma coisa é anotar música, e eu posso anotar qualquer coisa com partitura de padrão europeu: canto de torcida, heavy metal, som de passarinho. Outra coisa é criar música a partir da escrita. Tudo muda completamente.

Música de cinema e de teatro musical tradicional são provavelmente as únicas formas de música criadas na escrita além da música clássica. Música de cinema é uma disputa imensa, se é música clássica ou não. Acho que música de cinema e teatro musical são dois gêneros irmãos da música clássica, com que compartilha uma tradição comum. Exatamente igual à ópera.

Além da obra “explicativa” você também incluiu lançamentos. Isso vem do teu projeto no Twitter?

A seção de lançamentos são um agrado para um eventual público já habituado que por acaso ouça o Ilha. Eu assumo totalmente a mudança de público, altero até o jeito do texto, vocabulário, tudo.

Tem outro objetivo nessa seção também: fazer o iniciante ter contato com coisas que não são de iniciantes, com um discurso que não foi feito pra iniciante, com outro repertório. Escutar um pouco sobre intérpretes, gravações. Provavelmente os iniciantes não entendem muito o que falo na seção de lançamentos, mas talvez alguns fiquem fascinados. Didatismo tem um certo limite. A gente precisa aprender na marra, tendo contato com coisas mais “avançadas” também.

Você já tem planos de uma segunda temporada?
A primeira temporada deu um trabalho monumental! Eu nunca tinha produzido podcast em estilo palestrinha. Roteirizar, gravar, editar… tudo come muito tempo. Queimei todas as sinapses que ainda me restavam tentando fazer os roteiros se encaixarem, e nem sei se consegui!

Mas foi uma delícia de fazer, mesmo assim. Uma segunda temporada precisa ainda ser viabilizada, mas penso nisso só pro segundo semestre de 2024. Quem sabe? Até lá, devo inventar alguma outra coisa mais fácil de fazer, hehehe!

Clique aqui para ouvir o primeiro episódio.

Aqui você encontra o blog do Adriano.

E na conta do Twitter você fica sabendo sobre os lançamentos da semana.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima