Paraná fica com 90% dos riscos ambientais associados à Nova Ferroeste, diz relatório

Estudo da Fipe mostra problemas de desmatamento, erosão e também dificuldades para famílias que terão de ser realocadas devido ao novo trajeto

Os riscos ambientais associados ao projeto da Nova Ferroeste estão majoritariamente localizados no Paraná. De cada dez pontos de risco, nove se encontram no Paraná, afirma estudo de impacto ambiental que o Paranacidade, vinculado à Secretária de Obras Públicas, encomendou à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Em novembro de 2021 a Fipe publicou um relatório para avaliar os riscos gerados da construção desta nova rede de transporte ferroviário de 1.285 km extensão que conectará Paranaguá ao Mato Grosso do Sul. 

A Nova Ferroeste é apenas parte de um projeto maior, que prevê de criar um grande corredor para movimentar a mercadoria entre o Brasil e o Chile através de uma grande ferrovia.

O estudo detectou que a obra vai produzir 437 passivos ambientais e que o 90,85% deles terão impacto no Paraná, em particular nos municípios de Guarapuava, Irati e São José dos Pinhais. Dos 41 municípios atingidos pela ferrovia no Paraná, apenas em oito não foram identificados passivos ambientais. Os técnicos da Fipe especificaram que 98% dos riscos associados à construção da obra dizem respeito à supressão de áreas já destinadas à agropecuária ou já ocupadas por vegetação. 

De acordo com o relatório, as possíveis consequências poderão ser o acúmulo de lixo e matéria orgânica no fundo dos rios por conta do desmatamento da vegetação nas margens, a perda de biodiversidade e a um impacto negativo na qualidade da agua, que já representa um grande problema no Paraná por conta do fato que 327 municípios em um total de 399 apresentam agua contaminada por agrotóxicos. Por outro lado, o aumento do assoreamento dos rios poderá gerar mais situações de alagamentos no interior do Paraná, em particular em caso de novas precipitações extraordinárias como aconteceu entre outubro e novembro deste ano.

Uma possibilidade que o estudo da Fipe considera uma realidade, afirmando que a região “há tendências periódicas para as ocorrências extremas, principalmente nos volumes de precipitações pluviométricas” na região onde vai passar o trecho final da ferrovia entre São José dos Pinhais e Paranaguá. 

O relatório sublinhou também que por conta da grande quantidade de chuva nesta área “o potencial erosivo do terreno também é elevado”.

Além dos riscos hidrogeográficos, o relatório afirma que há riscos também para a vida de várias comunidades. “O traçado passa por muitas áreas com solos preparados para elevada produtividade agrícola e o estabelecimento da faixa de domínio nestas área pode ser considerado fator socioambiental sensível”, afirma o capitulo conclusivo do estudo. Em segundo lugar há o problema da poluição sonora porque os locais onde vai passar a ferrovia já apresentam “níveis de ruído e vibração acima do recomendado pelas normativas vigentes”.

Por conta disso, o relatório afirma que a construção da Nova Ferroeste vai produzir efeitos de “duração permanente” do modo de vida das comunidades afetadas por conta da “presença de ruídos, vibrações, exposição a gases e particulares e riscos de acidentes”. Além disso, o projeto da nova ferrovia obrigará a realocação de 372 casas – 49,7% delas estão localizadas na região de Cascavel. Por outro lado, os trechos da ferrovia vão ocupar 342 propriedades rurais, de superfícies inferiores a 10 hectares. Isso significa que serão atingidos pequenos produtores locais e não os donos de grande empresas ligadas ao agronegócio. Calcula-se que serão afetados 2.655 estabelecimentos agropecuários, sendo 48,8% na região de Cascavel.

A possibilidade de que a instalação da Nova Ferroeste possa gerar muitos empregos para absorver os trabalhadores da agropecuária afetados é avaliada pelos técnicos da Fipe como uma solução “temporária” e que “se restringe aos municípios com maiores demandas por obras em geral”.

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4 comentários em “Paraná fica com 90% dos riscos ambientais associados à Nova Ferroeste, diz relatório”

  1. Melhor mesmo é continuar queimando diesel em grandes caminhões ineficientes ,jogando milhões de toneladas de carbono na atmosfera e causando milhares de mortes por ano nas nossas rodovias ,ora ora pessoal vamos ter um pouco de bom senso!!!

  2. Olá pessoal,
    Parabéns pelas publicações que sempre vejo como sérias e importantes.
    No caso da Ferroeste sinto dizer que faltou falar e citar a cidade de Morretes, que receberá o maior impacto ambiental de todo o trajeto. O famoso Trecho 5 que passa pela nossa tão devastada Serra do Mar trará destruição para várias comunidades. Mais de 140 cursos d’água serão afetados, produtores de orgânicos certificados serão afetados, moradores antigos terão que sair de suas propriedades, a poluição nas águas da bacia do Rio Sagrado será inevitável e por aí vai…
    Sou presidente do GEAS- Grupo de Estudos e Ações para a Serra do Mar e estudamos o trabalho da FIPE em todos os seus detalhes e descobrimos muitas irregularidades ambientais. Entramos com uma Representação que foi acatada e transformou-se em uma Ação Civil Pública.
    Caso precisem de mais informações estaremos à disposição.

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