“Peter von Kant” tem um ego gigante que desmonta por amor

Filme do cineasta François Ozon se inspira num clássico de Fassbinder para falar de cinema, teatro e música

Uma saborosa combinação de teatro e cinema, luz, música, drama e afetação, apresentando um ego gigante que desmonta por amor e desonra é o que nos oferece “Peter Von Kant”, novo filme de François Ozon, que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas do Brasil e semana que vem em Curitiba.

Baseado no filme “As lágrimas amargas de Petra von Kant”, de 1972, dirigido pelo lendário alemão Rainer Werner Fassbinder (1945–1982) – que era uma adaptação de sua própria peça – o novo “Peter Von Kant” muda o gênero da protagonista e transforma a estilista arrogante Petra Von Kant no diretor de cinema Peter Von Kant, um homem rotundo e excêntrico que, enquanto cria o roteiro de seu próximo filme, desfila pela casa bebendo (muito) champanhe, tendo faniquitos e dando ordens ao seu sempre atento assistente (Stefan Crepon).

Peter von Kant

De início muito antipático, Peter seduzirá o espectador, com bom humor ferino e, mais adiante, com uma fragilidade que fará tombar a fera. E nós agradecemos a François Ozon por ter escolhido Denis Ménochet para interpretar Peter. O ator é conhecido por filmes como “Dentro de Casa” do próprio François Ozon, “A Crônica Francesa”, de Wes Anderson, e “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino.

Peter Von Kant deve ser, até agora, o papel da vida e o mais desafiador de Denis Ménochet. E ele é extremamente convincente nos momentos de humor, na patética postura do conquistador de um jovem, na constrangedora submissão a seu pequeno namorado ditador e, claro, nos instantes de fúria e desespero. Ele não grita e chora: ele ruge!

Um jovem

O jovem chama-se Amir Ben Salem, interpretado pelo quase estreante Khalil Gharbia. É um rapaz pobre, delicado e tímido, um pouco assustado, mas que sabe (inconscientemente, a princípio?) que cairá nas graças do diretor. Peter Von Kant exige que Amir se mude para a sua mansão e dá ao rapaz uma vida de luxo. E, perdido de amor, decide escrever outro filme e dar a Amir o personagem principal. Ele quer que o rapaz conquiste o mundo!

Duas senhoras

Quem apresentou Peter a Amir foi Sidonie, amiga e estrela de alguns de seus filmes. A atriz é interpretada pela já senhora e muito bela Isabelle Adjani. É um prazer vê-la na tela e lembrar que trabalhou com François Truffaut em “A História de Adèle H.”, em 1975, e com Patrice Chéreau em “A Rainha Margot”, em 1994. Trata-se de um dos rostos do cinema francês.

Outro símbolo do cinema europeu, desta vez o alemão, é Hanna Schygulla, que faz a mãe de Peter. A atriz era uma das preferidas de Rainer Werner Fassbinder, tendo interpretado a versão feminina de Amir Ben Salem no filme original. Na obra de Fassbinder, ela é uma moça que deseja ser modelo.

Máscaras

Todos os personagens, à exceção, talvez, da filha de Peter (Aminthe Audiard), parecem que usam máscaras para se relacionar, estão todos interpretando. Algumas vezes, eles deixam a máscara cair e o que aparece é crueldade, fragilidade ou estima genuína.

“Peter Von Kant” é um filme lindamente fotografado, com cenários de cores intensas, um colorido lindamente artificial e teatral. François Ozon (realizador de mais de 40 filmes, entre longas e curtas-metragens, em 34 anos de carreira) conduz com leveza e segurança, escorregando um pouquinho no final, em que os lances mais dramáticos acabam se alongando e, assim, perdendo a força. Mas Denis Ménochet salva esses momentos e nos mostra Peter Von Kant como o trágico personagem de uma ópera melodramática, cuja máscara jamais poderá ser removida. 

Onde assistir

“Peter von Kant”, de François Ozon, estreia em alguns cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20). Em Curitiba, a previsão é que entre em cartaz na semana que vem.

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