Homem sofre derrame e quer morrer com a ajuda da filha no filme “Está tudo bem”

Dirigido por François Ozon, “Está tudo bem” tem uma performance extraordinária do ator André Dussollier, hoje com 76 anos e um dos grandes nomes do teatro francês

Membro titular da Comédie-Française há 50 anos, André Dussollier comemora suas bodas de ouro com a mais prestigiosa instituição do teatro em seu país ao mesmo tempo que colhe os louros da carreira internacional pela atuação que renovou seus laços de amor com o cinema europeu: “Está tudo bem”.

Em cartaz no Cineplex Batel, em Curitiba, o novo filme de François Ozon rendeu a seu protagonista o reconhecimento do público em sua passagem pelo Festival de Cannes, no ano passado.

Ozon dá ao veterano intérprete uma história sobre suicídio assistido – e baseada em fatos – que estreou em seu país no ano passado, no momento em que ele se despedia de um amigo: o também ator Jean-Paul Belmondo (1933–2021).

“Está tudo bem”

“Fiquei muito próximo de Belmondo em seus momentos finais e acompanhei sua luta para viver uma experiência de apego à sobrevivência que me fez entender que, enquanto conseguem se expressar, as pessoas em estado de fragilidade ainda têm no que se agarrar e ainda têm razões para resistir”, disse Dussollier ao Estadão durante o Rendez-Vous Avec Le Cinéma Français, um fórum de promoção da produção francófona realizado em janeiro.

“O mais triste no ciclo de finitude que leva as pessoas ao desespero é a perda da autoestima. Conheci pessoas geniais como Jean-Dominique Bauby, jornalista e escritor que ficou paralisado após um derrame, sendo capaz de se expressar apenas com o movimento de um olho e que se agarrou à vida enquanto teve chance. Mas não julgo quem deseja antecipar a partida”, diz Dussollier. “Não me cabe esse direito.”

Truffaut

Ator desde seus 23 anos, Dussollier ingressou no cinema também há cinco décadas, quando foi escolhido por François Truffaut (1932–1984) para um papel em “Uma jovem tão bela quanto eu” (1972). Depois disso, não parou mais. “Teatro é onde reflito sobre os arquétipos da existência. Nos filmes, penso sobre a vida cotidiana. Percebo que cada geração de cineastas aporta sua própria percepção da realidade. A de Ozon se dá pelo respeito aos afetos”, disse Dussollier.

Em “Está tudo bem”, ele encarna o industrial octogenário André Bernheim, baseado no pai da escritora Emmanuèle Bernheim (1955–2017). Amiga de Ozon, ela registrou nas páginas de seu best-seller “Tout S’Est Bien Passé” sua luta para ajudar o pai a ter uma eutanásia autorizada após as sequelas de um derrame.

Proximidade

No filme, Sophie Marceau encarna Emmanuèle. “Ela chegou a me pedir que filmasse o livro, logo depois de publicado, mas éramos próximos demais para ter o distanciamento que esse projeto exigia”, disse Ozon ao Estadão, na Berlinale, em fevereiro.

“Mudei de ideia [sobre adaptar o livro] depois que ela morreu e percebi a necessidade de explorar esse tema da despedida e, sobretudo, da experiência de lidar com alguém que está partindo. E a sabedoria de Dussollier foi fundamental para isso”, disse Ozon.

Onde assistir

“Está tudo bem” está em cartaz apenas no Cineplex Batel, do Shopping Novo Batel. Confira os horários das sessões aqui.

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