Em Moçambique, apesar da invasão portuguesa e da imposição do cristianismo, a poligamia em algumas regiões é praticada. Via de regra, para envernizar o comportamento, os casamentos seguem os ritos cristãos: homem, mulher e filhos. A família tradicional. E como o homem é defensor da família, costuma ter mais de uma. Essa é a história de “Niketche – Uma História de Poligamia”, de Paulina Chiziane.
A protagonista de Niketche, Rami, é casada com Tony e tem filhos. Um dos filhos do casal quebra a janela de um carro durante uma brincadeira. O motorista, indignado, exige falar com o pai da criança e aí começa a saga de Rami, a mãe, para encontrar o marido e resolver a questão.
Paulina Chiziane
Tony não se relaciona somente com Rami. E embora isso pudesse ser um problema, ela decide abraçar a tradição moçambicana e propor ao marido a poligamia. No entanto, em vez de mais amor, a situação traz mais dor.
Chiziane é feliz em trazer questões centrais do patriarcado sem a sanha militante. Mesmo assim, quem lê se incomoda com as atitudes de Tony e dos demais homens, que sequer percebem o quão desrespeitoso são com as mulheres que supostamente amam.
O texto é narrado por Rami e embora muito incômodo, a leitura flui por meio da curiosidade pelo desfecho de um relacionamento polígamo.
Niketche, ao contrário do que sugere o complemento do título, não tem poligamia como única discussão. O livro trata de colonialismo, feminismo, machismo, sexismo e ancestralidade. É uma leitura importante e provocadora.
Livro
“Niketche – Uma História de Poligamia”, de Paulina Chiziane. Companhia das Letras, 336 páginas, R$ 69,90. Romance.