Para María Luque, HQ é um meio de “pensar sobre nossa história”

Quadrinista que sabia pouco sobre a Guerra do Paraguai criou um livro poético sobre o conflito, inspirada no pintor Cándido López

A argentina María Luque é uma das grandes quadrinistas da atualidade. Em 2022, ela venceu o tradicional prêmio Konex, da Argentina. E no próximo fim de semana ela vem a Curitiba para a Bienal de Quadrinhos 2023.

Luque é autora do livro “A mão do pintor” (Lote 42), obra que trata da Guerra do Paraguai (1864–1870). A HQ une ficção com história e acerta a mão ao falar de um tema sensível para a América do Sul.

A sensibilidade da artista é essencial para quem lê “A mão do pintor”. O fio condutor da narrativa é o pintor Cándido López (1840–1902), que retratou a Guerra do Paraguai. Ele conheceu Teodosio Luque, tataravô de María Luque. Essa relação próxima fez com que a artista buscasse um tom que não fosse “solene” em relação ao conflito.

Em entrevista ao Plural, por e-mail, Luque disse que teve medo antes de começar o livro. “Sabia pouco sobre a Guerra do Paraguai, pelo menos na Argentina não se fala muito desse tema, e queria ser respeitosa, mas aí, ao mesmo tempo, não queria que o livro fosse solene. Me pareceu que trazendo Cándido para o presente eu poderia contar a história de outra forma, agregando minhas próprias preocupações sobre o assunto”, disse.

Leia também: Artistas sorteiam livros para quem doar alimentos na Bienal de Quadrinhos

Outro desafio foi desenhar cenas de batalha que não causassem aversão nos leitores. “Quando comecei a imaginar o livro, foi difícil resolver essas questões. Eu sabia que em algum momento iria chegar à batalha e teria que desenhá-la. Não procurei retratar a guerra em detalhes sangrentos. Isso também acontece na obra de Cándido, os soldados são miniaturas. Você pode ver o sangue e as cenas terríveis, mas isso não gera sentimento de repulsa. Essas cenas são cercadas pela natureza, por árvores gigantes”.

Cándido López

Cándido foi um pintor destro que perdeu a mão direita durante a guerra. A amputação foi realizada pelo tataravô de María Luque, que era médico, e a história que fazia parte do folclore da família acabou ganhando uma versão na qual as pinturas de Cándido precisam ser terminadas pela própria autora do livro. O movimento arriscado proporciona ao leitor a possibilidade de refletir sobre a Guerra do Paraguai de forma mais branda, sem diminuir a brutalidade do conflito. “Creio que um livro pode ser uma boa desculpa para conversar e para pensar sobre nossa história”.

Cándido López estava em vias de ir à Europa para aprimorar sua arte quando começou a guerra. Contudo, decidiu ficar e lutar. Em uma carta escrita em 1887, o pintor disse que, ao se apresentar como soldado voluntário em defesa da Pátria, ele se propôs também a servir como um historiador com um pincel.

Esse papel duplo conferiu às obras de Cándido minúcias que apenas quem esteve in loco pode captar. Para Luque, os detalhes de esboços e escritos são tão notáveis quanto as “observações poéticas sobre a paisagem” do pintor.

“No meio da morte e da fome, Cándido tinha a fortaleza para se deslumbrar por essas coisas e isso se refletia depois em suas pinturas. No livro, tentei reproduzir esse espírito que vejo nas pinturas de Cándido, que apesar do aspecto terrível da guerra, sempre encontrava um lugar para deter o olhar”, explica a quadrinista.

Curitiba

Essa é a primeira vez de Luque em Curitiba. A sessão de autógrafos com a argentina acontece na sexta-feira (8), às 15h30, no Museu Municipal de Arte (Muma), no Portão.

A autora, contudo, estará na Bienal de Quadrinhos todos os dias, mas pretende separar tempo na agenda para conhecer a capital do Paraná. “É a primeira vez que vou a Curitiba, então estou emocionada por conhecer uma cidade nova. Porém, não pesquisei muito sobre Curitiba. Espero poder visitar alguns museus, caminhar e tomar café”.

Além da sessão de autógrafos, Luque também vai ministrar uma oficina na Caixa Cultural. As inscrições para participar já estão abertas.

Serviço

Oficina de Retrato com María Luque
Data: 10/09/23 | Público: 18 anos | horário 15h – 17h | Presencial | Teórico-prática

Caixa Cultural Curitiba – Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro
Outras informações no site da Caixa (aqui) e no perfil da Caixa, no Instagram (aqui)

Sessão de Autógrafos María Luque

Data: 08/09/2023 | Público: livre | horário 15h30

Bienal de Quadrinhos – Muma – Av. República Argentina, 3430 (próximo ao Terminal do Portão)

Bienal de Quadrinhos

Data: 7 a 10 de setembro | Público: livre | horário: 9h às 21h | Entrada Franca

Muma – Av. República Argentina, 3430 (próximo ao Terminal do Portão)

________

A entrevista com María Luque foi gentilmente traduzida do espanhol por Iago Albuquerque e Maria Carolina Lippi Scherner, especial para o Plural.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima