Os piratas

“A ilha do tesouro”, que ganha nova edição pela Antofágica, moldou boa parte daquilo que você pensa quando pensa em piratas

Perna de pau. Caminhar mancando. Papagaio. Ilha do Tesouro. Marcar um X no mapa. O tesouro colocado em um baú. Todos esses elementos fazem parte de uma certa noção do que seria um pirata – uma noção consolidada por filmes e séries (e mais fantasiosa que simplesmente caracterizá-los como os saqueadores bêbados que eram).

Quem ajudou a construir essa iconografia foi Robert Louis Stevenson (1850-1894) com seu livro “A ilha do tesouro”, que acaba de ganhar uma nova edição pela Antofágica. Stevenson acabou ficando marcado mundialmente por ter escrito “O médico e o monstro”, em 1886. Entretanto, o autor, três anos antes, lançava no Reino Unido a obra na qual modificou, para sempre, o conceito de pirataria. Ele foi o responsável por consolidar os trejeitos reconhecíveis dessas figuras.

Na história, realizada para o público infantil, acompanhamos a narrativa sob os olhos do garoto Jim Hawkins. Ele é filho dos proprietários da hospedaria Almirante Benbow. Com a chegada de um esquisito pirata chamado Billy Bones, diversos outros começam aparecer em busca de seu paradeiro e de algo escondido pelo mesmo. Certo dia, Bones morre. Assim, Jim e sua mãe vão até o quarto onde ele ficava e encontram um mapa do tesouro. Hawkins mostra isso para um amigo seu, o doutor David Livesey. Os dois reúnem uma tripulação e saem em busca da fortuna.

“Traduzir um texto que já foi bastante traduzido abre a possibilidade de se escolher soluções distintas. Por exemplo, no clássico verso ‘fifteen men on a dead man’s chest’, buscamos a referência original de Stevenson à uma ilha do Caribe, a Dead Chest Island, que vista do mar parece o peito e o rosto de um morto boiando”, conta como curiosidade Samir Machado de Machado, responsável pela nova tradução do livro, que estará nesse relançamento. “Ao invés do tradicional ‘baú do morto’, optamos por rimar com ‘Peito de Defunto’ que é a tradução do nome da ilha que a música faz referência”.

Além dessa nova tradução de Machado, a obra ainda contará com ilustrações especiais de Paula Puiupo, na qual terão toda uma conversa com o texto – como divulgado pela editora – e textos complementares sobre o livro, escritos pelo scritor Jim Anotsu e pela pesquisadora Marina Bedran.

Capa da nova edição de “A ilha do tesouro”, publicada pela Antofágica.

Ainda sobre a tradução, Samir complementa que “traduzir ‘A Ilha do Tesouro’ é daqueles trabalhos que são puro prazer”. Ele cita como outro exemplo a tradução da linguagem dos piratas, com toda uma complexidade própria. “É o processo de perceber como Stevenson tem controle sobre sua narrativa, e conduz bem os episódios e o ritmo da aventura, bastante ágil, bastante contemporâneo”, relata.

Com o devido sucesso de público e crítica, “A ilha do tesouro” não demorou para ser adaptada para outras linguagens. Primeiramente, surgiu um filme mudo, de 1918, feito por Sidney Franklin e distribuído pela Fox. Esse, muito próximo do trabalho original, foi o estopim para diversas outras versões. Mais especificamente, 20 filmes para o cinema e um para a TV, contando a primeira produção live-action da Disney, um anime, um faroeste e uma versão com os Muppets.

Além das adaptações para o cinema, houve 14 seriados, 14 peças teatrais, 10 histórias em quadrinhos e outras 6 versões para o rádio – incluindo uma narrada por Orson Welles. Isso tudo ainda sem contar as homenagens realizadas na cinessérie “Piratas do Caribe” e no seriado “Doctor Who”.

Definitivamente, o trabalho de Stevenson alterou a cultura pop como é conhecida na atualidade. Apesar de não ter sido uma obra marcante em termos literários, especialmente na linguagem infantil, ela construiu todo um imaginário existente sobre a mitologia dos piratas.

“Todas as histórias de piratas posteriores descendem dele e de sua popularidade ao longo dos últimos 150 anos. Mais do que isso, é um livro fundamental na trajetória de qualquer um como leitor”, completa o tradutor.

Serviço

“A ilha do tesouro”, de Robert Louis Stevenson. Tradução de Samir Machado. Ilustrações de Paula Puiupo. Antofágica, 368 páginas, R$ 55,90.

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