Mil frases para rir e irritar ao mesmo tempo

Carlos Castelo lança livro de aforismos com apresentação de Luis Fernando Verissimo

Um frasista que tem a admiração de Luis Fernando Verissimo e Ruy Castro certamente está no caminho certo. São os dois que fazem a apresentação e a quarta capa do novo livro de Carlos Castelo, compositor, escritor e publicitário que ficou conhecido nos anos 80 como letrista do Língua de Trapo – e que desde lá não parou de exercitar o humor inteligente que foi a marca do grupo.

Frases Desfeitas (Editora Noir), que chega às livrarias nas próximas semanas, é uma coletânea das frases, máximas e aforismos que Carlos Castelo publica diariamente no Twitter para seus milhares de seguidores. Tratam de tudo: vida, política, economia, relacionamentos.

Como todo bom frasista, Castelo tem o gosto pela concisão. Faz aquele tipo de trabalho que, segundo Woody Allen, se uma palavra estiver fora do lugar, tudo perde o sentido. E sai incólume.

Além de Ruy Castro e Verissimo, José Roberto Torero também faz a apresentação do volume, que contém mais de mil frases em 252 páginas. O prefácio fica por conta de Manuel da Costa Pinto e as ilustrações são de Nani Lucas.

A seguir, Castelo, que assina o blog Dicionaro no Plural, fala um pouco sobre o livro.

De onde veio teu gosto pelas frases curtas, de humor?

Sou filho de nordestinos. Em casa ouvia muito minha mãe usando provérbios maranhenses e piauienses para nos educar. Minha avó materna, que era extremamente católica, de vez em quando me fazia também ler o Livro dos Provérbios, da Bíblia. Talvez tenha vindo daí o meu primeiro contato com a sabedoria concisa. Por causa do meu espírito brincalhão, comecei logo a desconstruir os provérbios bíblicos, transformando-os em piadas. Isso desgostou bastante vovó, mas me garante hoje uma boa quantidade seguidores nas redes sociais.

Quem são teus mestres nessa arte?

São muitos. Mas os mais influentes são Ambrose Bierce, Millôr, Karl Kraus e Emil Cioran.

Você hoje exercita muito isso nas redes sociais. Ainda faz sentido um livro?

É verdade. Tenho mais de 20 mil frases no Twitter. Acontece que, de vez em quando, faço uma seleção do meu material. Muita coisa dessa fraseologia nas redes sociais fica datada, porque é feita em cima de fatos do cotidiano. Mas há aqueles aforismos que permanecem, não são nada efêmeros. São exatamente eles que transfiro para meus livros.

Teu texto é multiuso: letrista, publicitário, frasista, dicionarista… Qual dessas coisas te dá mais prazer?

Já escrevi um romance policial (Damas turcas) e um livro infantojuvenil (O caranguejo bom de bola). No entanto, a minha praia é mais o texto curto: a crônica, a poesia, o verbete, o frasismo. Se eu fosse um corredor, seria melhor como o cara dos 100 metros rasos do que como o maratonista. Meu fôlego é curto.

Fala um pouco sobre o Dicionaro e o bolsonarismo, por favor.

O Dicionaro é um projeto que estou adorando fazer no Plural. O “Dicionário do Diabo”, de Ambrose Bierce, foi o que me inspirou para meu Dicionário de Bolso. Adoro aquelas definições cínicas e sarcásticas de Mr. Bitter. Apesar de ser uma obra francamente humorística, acredito que, no futuro, os antropólogos ainda verão o Dicionaro como um precioso estudo sobre a fase mais apalermada vivida pelo Brasil em toda a sua história.

O que o leitor do livro pode esperar?

O Ruy Castro diz, na quarta capa do livro, que quando quer rir e se irritar ao mesmo tempo, vai direto aos aforismos do Frases Desfeitas. Então, o que o leitor pode esperar é tudo, menos autoajuda.

 

Só se vive uma vez. E isso se você for da elite.

Uma mentira repetida mil vezes torna-se música eletrônica.

Há dois tipos de livro: o prolixo e o pro lixo.

Nosso maior drama: estarmos em versão Beta desde 1500.

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