Defasagem tira R$ 8 mi de incentivo à cultura em Curitiba

Se tivesse sido corrigida com a inflação do período, cifra autorizada para captação de recursos em 2022 seria de R$ 22 milhões, bem acima dos R$ 13,55 milhões que foram liberados de fato

Os valores liberados pelo Mecenato Subsidiado para artistas curitibanos continuam os mesmos há cinco anos. Os editais do Mecenato, publicados pela Fundação Cultural de Curitiba, financiam projetos culturais e artísticos por meio da renúncia fiscal do município. Equivalente à Lei Rouanet, que é federal, os projetos não recebem o dinheiro direto do poder público, mas o direito de captar recursos no contato com empresas.

O valor de renúncia fiscal dos recursos de IPTU e ISS autorizado para o ano de 2022 é de R$ 13,55 milhões, montante semelhante ao de 2018. De acordo com a consultoria contratada pelo Sindicato de Artistas e Técnica em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná (Sated-PR), corrigido com a inflação, esse montante deveria ser algo em torno dos R$ 22 milhões, uma diferença de mais de R$ 8 milhões.

“Isso é só para corrigir a inflação. Não é nenhum ganho real, é só pra gente estar na mesma condição que a gente estava quando o prefeito Greca assumiu”, diz Adriano Esturrilho, presidente do Sated-PR.

O que diz a lei

De acordo a legislação, o município pode dispor de até 2% da arrecadação de IPTU e ISS para renúncia fiscal, sendo o montante distribuído entre o Mecenato e o Fundo Municipal de Cultura, com até 1% para cada.

No entanto, o valor do Mecenato não chegou a 1% nos últimos anos. E, ao invés de aumentar, o percentual da arrecadação destinado ao Mecenato tem diminuído. De 0,73% em 2017 para 0,68% em 2018, para 0,61% em 2019. O percentual teve um aumento 0,01% em 2020 e subiu para 0,62%.

Sem correção

O resultado disso é que cada vez menos projetos são viabilizados. O valor não é corrigido, mas o número de trabalhos inscritos aumenta a cada ano. De acordo com Adriano Esturrilho, do Sated-PR: “Desde que o prefeito Greca assumiu, não houve correção desses valores e, logicamente, os projetos têm mais dificuldade de serem realizados, porque não está sendo feita nem a correção da inflação. Então cada vez você tem projetos mais apertados, mais enxutos e numa quantidade menor.

A prefeitura de Curitiba afirma que não houve reajuste “em razão da priorização de recursos necessários para o enfrentamento da pandemia de coronavírus” e que, apesar da queda da arrecadação, o valor nominal do Mecenato foi mantido.

“É muito pouco”

O setor representado pelo Sated chegou a ter aprovados 35 projetos no mesmo ano, em outros tempos. Atualmente, são apenas 17 projetos aprovados por ano. “Se continuar assim, daqui a pouco a gente vai ter uma cidade do tamanho de Curitiba aprovando dez ou menos projetos de teatro, dança e circo. É muito pouco”, diz.

Ferramenta importante

O Mecenato Subsidiado é considerado, pela classe artística, a principal ferramenta de fomento do município. De acordo com o presidente do Sated-PR, o Mecenato produz uma quantidade maior de trabalhos dos grupos independentes, e de forma mais contínua, que o Fundo Municipal de Cultura.</p>

Subir de 0,62% para 1% significa aumentar o número de projetos e democratizar o acesso. Hoje, apenas os trabalhos com notas acima de 9 são contemplados com a possibilidade de arrecadar recursos de empresas. Embora projetos que atingem a nota 8 sejam aprovados, não há dotação orçamentária para todos.

“Aumentando o número de projetos, automaticamente baixa a nota. Então você democratiza o acesso”, diz Esturrilho. “É lógico que quem tem estrada, quem tem uma produção consistente, deve receber recursos, mas a gente também deve abrir espaço para quem está chegando. Então, aumentar o valor é aumentar a qualidade e a diversidade da produção cultural da cidade.”

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