Matando a saudade do teatro em casa

Companhias apostam em experiências online para manter o contato com público

Era para estarmos fazendo escolhas, batendo agendas, correndo em vão atrás de lugares nas sessões esgotadas e enfrentando filas para comprar ingressos. Sim, nesta época do ano, os fiéis amantes do teatro e mesmo os “crushes” eventuais se esbaldavam com o que existe de melhor na arte durante o Festival de Curitiba. O ritual se repetia anualmente, desde 1992, com atrações locais, nacionais e internacionais nos palcos e ruas da cidade. Mas, há cerca de um ano, o evento era adiado e depois reconfigurado em uma versão compacta e on-line devido à pandemia. 

Um ano se passou e a Covid-19 faz da vida cotidiana um drama real. Não existe ainda chance para se pensar os mesmos espetáculos de antes no novo normal, porque teatro é comunhão. Claro que são meses de preparo, uma vida de estudo com dedicação e inúmeros ensaios durante cada processo de criação. Mas o teatro só acontece de verdade no momento do encontro com o público, no compartilhar-algo-agora. É efêmero, um escravo do tempo presente, nunca uma apresentação é igual a outra. Mas em tempos de pandemia, como se faz teatro? 

Artistas e companhias locais estão recorrendo a editais emergenciais de subsídio e fomento à cultura, como os da Lei Aldir Blanc, para continuarem em atividade porque o segmento é um dos mais impactados pelas medidas de isolamento. Existem também iniciativas independentes, porém pontuais. Enquanto não há como receber o público, surgem pesquisas e experiências para manter o contato com a plateia no melhor lugar onde ela pode estar agora: em casa. 

Confira as apostas do Plural para matar a saudade do teatro.

Se você perdeu, a hora é esta!

As tramoias de José na cidade labiríntica*

Teatro filmado com tradução em Libras
Grupo Obragem de Teatro
Temporada por tempo indeterminado.
Em: https://youtu.be/V_e9dX6RtI8 (peça e conversa com criadores)
Gratuito
Duração: 40 minutos 

Mais informações: https://www.instagram.com/grupoobragemdeteatro/; https://www.facebook.com/obragem; e http://www.grupoobragemdeteatro.com.br/ogrupo.html

Eduardo Giacomini. Foto de Elenize Dezgeniski

A principal peça do repertório da companhia volta em cartaz agora na versão on-line. O solo, com texto e direção de Olga Nenevê, coloca em cena José — um homem errante que acredita ser imortal e ter participado da história desde o princípio da humanidade. Ao refletir sobre sua vida, misturando o real e o imaginário, ele fala sobre amor, abandono, vergonha, impotência, e solidão. “É um texto que a Olga escreveu e montamos há dez anos, mas parece melhor agora. Na verdade, é sobre as questões humanas, as questões sociais e as questões políticas que estão sempre se repetindo, sobre estarmos nessa luta desesperada para sobreviver à devoração do outro”, explica Eduardo Giacomini, que interpreta José. 

O espetáculo foi apresentado em mais de 30 cidades brasileiras, ganhou o Troféu Gralha Azul de texto original e iluminação, em 2012, e o Prêmio Arte Paraná da SEEC-PR, em 2016. 


Terrível Incrível Aventura — Um Musical Fabulesco Marítimo!

Teatro musical filmado
Bife Seco
Temporada online no período de isolamento social
Em: https://youtu.be/iv5nchhvUBM
Gratuito
Duração: 1h20
Mais informações: https://www.instagram.com/companhiabifeseco/; https://www.facebook.com/BifeSeco/; e http://www.bifeseco.com.br/

Foto de Rosano Mauro Jr

Enquanto a pandemia está por aqui, o público pode conferir on-line a peça que levou o trabalho da Bife Seco para palcos e festivais Brasil afora. A montagem é uma sátira, uma comédia musical absurda, sobre o extremismo no mundo, a disputa de poder e a beleza da esperança. Foi escrita como poema épico versado, em homenagem às epopéias gregas clássicas, em que a aventura é pano de fundo para discussões profundas. O enredo traz Capitão Sham, um velho cozinheiro, na sua jornada pelo amor da glutona e libidinosa Crimeia. Induzido por Mefisto, ele parte numa perigosa viagem em busca de um raro polvo azul, iguaria que servirá à conquista do estômago e da paixão de sua amada, enquanto enfrenta outros pretendentes da mulher.

“O espetáculo é cheio de humor e música. Mas existe também um significado por trás, um subtexto em todos os elementos. O fato da história se passar em um navio em alto mar é uma alusão ao terreno turbulento, inconstante e perigoso pelo qual vários países estão passando”, diz o autor e diretor da peça, Dimis Jean Sores. O texto ganhou o prêmio Lei Aldir Blanc e será publicado na versão ilustrada em e-book em breve, com patrocínio da Secretaria da Comunicação Social e da Cultura do Governo do Estado do Paraná.  


Síncope

Teatro filmado 
Cia Senhas de Teatro
Temporada on-line no período de isolamento social
Em: https://youtu.be/EKP1yIWv5cY
Gratuito
Duração: 30 minutos
Mais informações: https://ciasenhasdeteatro.wordpress.com/ e http://www.ciasenhas.art.br/

Luiz Bertazzo e Ciliane Vendruscolo. Foto: Divulgação 

O espetáculo foi a primeira peça on-line da companhia e tem como inspiração as pandemias em diferentes momentos: a gripe espanhola, em 1918, e a COVID-19, em 2020. Em cena, uma atriz e um ator reverberam vozes do passado que se misturam a vozes do presente para evocar memórias, o debate é sobre a evolução da humanidade para refletir a respeito da sociedade contemporânea. 

A obra é um manifesto-cênico, que parte de uma comemoração ácida, um grito de socorro que ecoa ao longo do tempo e faz um aceno para o futuro. Foi criada para a 3ª Mostra Move – Grupos de Teatro, promovida pelo Grupo Obragem, e estreou em novembro de 2020. 


Em cartaz

Mulheres — Sinais de suas escritas*

Declamação de poesia em português e libras
Companhia Fuctissonante de Arte Acessível
Estreias até 2 de abril — sexta-feira 
Em: http://bit.ly/fluctissonante (Youtube) e https://www.facebook.com/flucti
Gratuito 
Duração: 5 min por episódio
Mais informações: https://www.instagram.com/fluctissonante/; e https://www.facebook.com/flucti
Após as estreias, os episódios estarão nas redes da companhia. 

Helena de Jorge Portela. Foto: Divulgação

O projeto reúne poemas de autoras paranaenses — Luci Collin, Leonarda Glück e Simone Magalhães — transpostos para a Libras em nove performances com as atrizes Helena de Jorge Portela, Catharine Moreira e Mônica Tintore. Cada novo episódio apresenta um texto diferente, em uma espécie de declamação encenada nas duas línguas: Português e Libras. Os vídeos também terão audiodescrição informal e serão acessíveis para cegos, surdos, videntes e ouvintes. 


Estreias

Resposta ao espaço tempo*

Solo de teatro audiovisual
Cia Ganesh
Em 26 de março — sexta-feira — às 20h20
Ingressos via Sympla, no link: https://www.sympla.com.br/estreia—resposta-ao-espaco-tempo__1144836 
Gratuito
Duração: 40 min
Mais informações: https://www.facebook.com/CiaGanesh e https://www.instagram.com/ciaganesh/

Humberto Gomes. Foto: Divulgação

O espetáculo mostra o encontro de uma pessoa consigo mesma a partir de projeções e lembranças, que passam a fazer sentido depois da personagem passar muito tempo confinada e isolada. Tudo é potencializado com a descoberta de uma carta com uma mensagem de alguém do passado. A partir disso, misteriosas coincidências começam a acontecer. A criação, o roteiro e a interpretação são de Humberto Gomes.


Conto com libras*

Lendas interpretadas em Libras com narração em Português
Companhia Fuctissonante de Arte Acessível
27 de março — sábado — às 20H
Em: http://bit.ly/fluctissonante (Youtube) e https://www.facebook.com/flucti
Gratuito 
Duração: 12 minutos
Mais informações: https://www.instagram.com/fluctissonante/; e https://www.facebook.com/flucti

Após a estreia, a peça estará nas redes da companhia. 

Foto de Chico Paes

Três lendas do folclore paranaense — Gralha Azul, Cataratas e Monge da Lapa — são interpretadas pelas atrizes surdas Catharine Moreira e Gabriela Grigolom, e pela atriz ouvinte Helena de Jorge, com direção de Nautilio Portela. O espetáculo tem cenários projetados com animações digitais assinadas pelo artista Chico Paes, e também manipulação de bonecos e marionetes. É apresentado em Libras com narração em Português.


Aqui estamos futuro*

Cabaré expandido para as redes em tempos de peste
Coletivo Selvática
2 de abril — sexta-feira — às 20h
Em: www.youtube.com/selvaticx e www.instagram.com/selvaticaoficial
Gratuito 
Duração: 60 minutos
Mais informações: https://www.selvatica.art.br/

Foto de Ma Ribeiro

A pesquisa de teatro cabaré realizada pelo coletivo há quase dez anos está agora nas plataformas virtuais. A proposta envolve interatividade, o conceito de cabaré expandido e a escrita de uma “cabareturgia” específica para as redes. Trata-se de uma espécie de carta ao futuro, uma correspondência cênica em que artistas de cabaré, isolados em diferentes partes de um continente precarizado, traçam uma linha virtual que os conecta. Entre falhas, câmeras que podem travar e mensagens que talvez nunca cheguem ao destino, surgem espaços políticos e polifônicos, um show de um monstro de muitas cabeças — a quimera latino-americana. 

“Diferente de outras ações que fizemos nas redes no ano passado, estamos entendendo “Aqui Estamos Futuro” como um projeto de pesquisa maior, no sentido de não ser uma única transmissão, mas sim várias ações que se cruzam em multiplataformas. Um cabaré onde compartilhamos os nossos procedimentos e as regras desse jogo coletivo”, explica Gabriel Machado, integrante da Selvática. 


Caixa acústica*

Performances audiovisuais
Cia Ganesh
A partir de 04/04 —  domingo — Acústico#1 Mordaça – Letícia Gardaz
A partir de 06/04 —  terça-feira —  Acústico#2 Vamos Dançar? – Adriano Carvalhaes
A partir de 08/04 —  quinta-feira — Acústico#3 Fuga – Mayara Nassar
A partir de 10/04 —  sábado — Acústico#4 Sem Stress – Filippe Thome
A partir de 12/04 —  segunda-feira — Acústico#5 Luz – Sandy Keller
A partir de 14/04 —  quarta-feira —  Acústico#6 Servidos – Vitor Dias
A partir de 16/04 — sexta-feira — Acústico#7 Terreno – Babi Ferreira
Sempre às 20h
Ingressos via Sympla, no link: https://www.sympla.com.br/ciaganesh
Duração: 4 minutos por performance
Gratuito 

Mais informações: https://www.facebook.com/CiaGanesh e https://www.instagram.com/ciaganesh/

*Após as estreias, as performances estarão nas redes da companhia. 

Acústico #4, #5, #6 e #3. Foto: Divulgação

É uma proposta colaborativa desenvolvida a partir de depoimentos pessoais dos integrantes e diretamente associada às coleções de cada um dos envolvidos: histórias, memórias, crenças, valores, desejos, segredos, estudos e investigações das obras de Peter Brook e Yoshi Oida, com direção de Humberto Gomes. Apresenta uma série de performances audiovisuais curtas, com o intérprete mergulhado em seu cotidiano enquanto faz a encenação. 

A companhia já trabalhava com a criação cênica para espaços não convencionais e, com a ausência do encontro com a plateia na pandemia, o projeto audiovisual permitiu a continuidade da pesquisa na casa dos artistas.

Temporal*

Teatro filmado
Grupo Obragem de Teatro
Estreia em 19 de abril — às 20h* 
Em: https://www.youtube.com/user/Eduolga/featured (peça e conversa com criadores)
Gratuito
Duração: 15 minutos 
Mais informações: Instagram: @grupoobragemdeteatro; Facebook: https://www.facebook.com/obragem; Site: http://www.grupoobragemdeteatro.com.br/ogrupo.html

*Após a estreia, o espetáculo estará disponível no YouTube do grupo. 

Foto de Elenize Dezgeniski

A nova peça do Grupo Obragem faz um mergulho em diferentes comportamentos e emoções despertadas pela solidão imposta pela COVID-19. O enredo apresenta personagens em cenas breves: um homem confuso entre seus sonhos, eventos do passado e imagens da TV; uma mulher que tem uma epifania ao acordar, em casa, assustada com a força de um temporal; e uma segunda mulher que tenta entender as causas da pandemia enquanto reflete sobre a força da vida. A dramaturgia é de Olga Nenevê em parceria com Eduardo Giacomini e Elenize Dezgeniski, que desde 2007 trabalham em criações que integram projeções, fotos e diálogos sobre teatro e cinema. 


Sangue que corre em veia de espuma*

Teatro de bonecos adulto com transmissão online e bate-papo com equipe de criação
Ave Lola
De 22 a 25 de abril— quinta a domingo — às 20h
Em: https://www.youtube.com/user/avelolacultural
Gratuito 
Duração: 15 minutos
Mais informações: http://www.avelola.net.br/

Helena Tezza. Foto de Larissa de Lima

O espetáculo solo da atriz Helena Tezza tem como personagem principal Dona Lucrécia, uma mulher que se depara com as perdas e a solidão causadas pela passagem do tempo, emoções as quais acabam refletidas em sua imagem no espelho. A montagem é o resultado de um processo de pesquisa e estudo sobre teatro de bonecos, com direção de Ana Rosa Genari Tezza, assistência de direção de Eduardo Giacomini e orientação de manipulação de bonecos de Eduardo Santos. 


Insensatez*

Leitura dramática
Flutua Produções
28 de abril — quarta-feira — às 20h
Ingressos via Sympla, a partir de 12 de abril em sympla.com.br/flutuaproducoes
Duração: 50 minutos 
Gratuito 
Mais informações: https://www.facebook.com/flutuaproducoes 


Ailén Scandurra e Maíra Lour. Foto: Ailén Scandurra.

O texto de Maíra Lour tem origem na pesquisa sobre duas poetas latino-americanas: Ana Cristina Cesar (brasileira) e Alejandra Pizarnik (argentina), que compartilham a morte trágica e precoce. Insensatez fala de vida e morte, da fragilidade do corpo e da intensidade da palavra. Revela com sensibilidade e ousadia uma possível aproximação cronológica entre estas mulheres e levanta suposições de quem seriam elas a partir das pistas deixadas nos livros. Traz a questão do suicídio com certa leveza.

*Projetos realizados com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba, da Prefeitura Municipal de Curitiba e do Ministério do Turismo.

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Matando a saudade do teatro em casa”

  1. Senti falta de falarem do Pé no Palco!!!!
    Essa semana tem estreia, semana passada também teve! Experimentos que estão sendo super potentes , criando linguagem on-line 🙂 procurem assistir ? ficaremos felizes! E parabéns pela matéria, sempre importante divulgar e apoiar os artistas!

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