Lisa Ginzburg investiga os papéis da mulher com o livro “Cara paz”

Romance da escritora italiana fala sobre duas irmãs muitos diferentes uma da outra, e sobre a mãe delas, ausente e sempre presente

Algumas das melhores capas de livro parecem ser aquelas que começam a contar a história ali, naquele espaço pequeno onde fica o nome da autora e o título da obra. E a história de “Cara paz”, de Lisa Ginzburg, começa na capa do livro, com a fotografia de Luigi Ghirri.

A imagem mostra uma jovem diante de uma criança. Elas parecem estar conversando e parece que a mulher espera a criança. Há também uma senhora, mais atrás e à esquerda, que não interage com as duas personagens. Tem algo na fotografia que remete ao passado – o corte de cabelo da jovem, talvez? –, mas fora isso é uma imagem simples e ensolarada. (No crédito, você descobre que ela é de 1986.)

Lisa Ginzburg

Foi na década de 1980 que as irmãs Maddalena e Nina Cavallari eram crianças e viveram a separação dos pais de uma forma incomum. Depois que a mãe decidiu sair de casa – ela largou o marido para viver um outro amor –, o pai fotógrafo das duas proíbe a ex-mulher de ver as crianças. E nisso consegue o apoio da justiça. 

Porém, esse pai não se sente capaz de criar as filhas sozinho e, aproveitando o dinheiro da família, ele contrata uma tutora que é um pouco mais velha que as meninas e as três passam a morar em um apartamento em Roma.

Cara paz

Lisa Ginzburg, filha do historiador Carlo Ginzburg e neta da escritora Natalia Ginzburg, narra a história das irmãs em dois momentos distintos, que se intercalam: na juventude e na vida adulta. A narradora é Maddalena, também chamada de Maddi. É possível que leitoras e leitores de Elena Ferrante reconheçam traços de “A amiga genial” em “Cara paz”. Assim como Lila e Lenù, as protagonistas da chamada “tetralogia napolitana”, de Ferrante, Maddi e Nina também têm personalidades muito diferentes e oscilam entre o amor e o embate. 

Diferente de Ferrante, Lisa Ginzburg se preocupa menos com a trama e parece mais interessada na forma como sua protagonista pensa. Ela quer explorar o que existe debaixo da carapaça de Maddi e é na cabeça dela que a história de “Cara paz” se desenrola.

Assim como Ferrante, Ginzburg também está interessada em discutir os muitos papéis que uma mulher pode desempenhar, sejam eles impostos ou desejados com intensidade. 

Livro

“Cara paz”, de Lisa Ginzburg. Tradução de Francesca Cricelli. Editora Nós, 256 páginas, R$ 70. Romance.

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