Exposição questiona a o status do belo frente à arte das ruas

A 2ª edição de "O lado sujo da Cidade Modelo" tem obras de artistas locais que colocam Curitiba no mapa da arte urbana brasileira

A exposição coletiva “O Lado Sujo da Cidade Modelo” chega à segunda edição com a proposta de questionar o lugar da arte, inclusive como expressão política, nas ruas e também mostrar o quão tênue é a linha entre a produção considerada legítima e bela frente à julgada como suja e marginal. O acervo reúne trabalhos de 12 artistas do movimento do graffiti em Curitiba, nomes com obras inseridas no cenário urbano da cidade e que também colocam a capital do Paraná no mapa da street art do Brasil, além de dois paulistas. A mostra acontece de 19 de outubro até 4 de novembro, na galeria Sfco 179.

A primeira edição da exposição foi em 2022, com trabalhos do artista Ouber. Neste ano, é ele quem assina a curadoria da exposição que traz para dentro de uma galeria, artistas que majoritariamente têm a primeira oportunidade de levar obras para dentro de um espaço consagrado. 

Arte autêntica

A ideia do curador é despertar um olhar diferenciado no público, mais atento ao observar a arte nas ruas, inclusive a pichação que é parte do movimento do graffiti. “É a forma de arte mais autêntica e acessível da atualidade, e existe pouca abertura para esse movimento no cenário artístico em Curitiba, que é conhecida por ser uma cidade higienista e preconceituosa”, diz Ouber. 

Sobre a seleção dos participantes, ele explica que foi guiada pela identidade dos trabalhos, além de considerar a presença forte na cidade: “Selecionei nomes ativos nas ruas de diferentes gerações do graffiti ilegal, que desenvolvem uma linguagem artística e apresentam uma boa construção estética.”

Obra exposta em “O lado sujo da Cidade Modelo”.

Sobre a receptividade esperada para “O lado sujo da cidade modelo” na Sfco 179, o responsável pela curadoria do espaço, Bruno Santos, diz que a galeria abriu as portas pensando em propostas originadas na arte de rua. “Aos poucos as pessoas estão reconhecendo nosso espaço como um local que fomenta encontros que partem da arte e da cultura”, fala Santos. Ele ainda destaca que ali também ocorrem eventos que ultrapassam as artes visuais, com artistas da música, por exemplo.

Artistas na exposição “O lado sujo da Cidade Modelo”

Baby Babi

Multiartista que entrou no mundo da arte de rua a partir da criação de tags nas ruas, como forma de expressão particular na cena do hip-hop. Tem uma legião de seguidores nas redes sociais (com mais de 10 mil no Instagram), participou recentemente de uma exposição coletiva realizada pela Intro Store em São Paulo-SP e já foi citada como referência no graffiti brasileiro pelo blogue Rave Report. 

Pac Calory 

Começou no graffiti em 2011, com personagens em spray e hoje seu trabalho tem como identidade as formas abstratas. Já realizou vários projetos de produção de murais em Curitiba, com destaque para um em container itinerante para a marca C&A. 

Ouber

O artista é natural do Rio de Janeiro-RJ e chegou em Curitiba no ano de 2007, mas só em 2014 fez o primeiro bomb na parede. Com influências da zona norte carioca, teve os trabalhos de “xarpi” como inspiração inicial. É ativo no movimento e busca sua própria estética na cultura. 

Bom dia

Nos muros desde 2018, tem criações marcadas pela provocação e pela expressão da decepção com a invisibilidade do ser humano. A frase de leitura fácil presente em suas obras mostra o conforto e o desconforto que motiva suas obras.

Kelw

Começou a fazer graffiti por volta de 2007, atualmente se mantém ativo no movimento e integra a Crew ORS.

Uns plural Kilo

Com a influência do basquete e skate na rua, a cultura do graffiti surgiu para Kilo por volta do ano 2002. Ver a cidade bombardeada por vários artistas de diversas formas e absorver toda aquela escola foi a motivação para iniciar suas produções.

Saic

Integrante da Nerd Crew, é ativo na cena curitibana desde 2006. O laço com a pichação surgiu na própria família e já produziu em diferentes estilos, do mural ao ‘vandal’ em ruas e trens.

Persevejo

Pratica o desenho desde criança e, no final dos anos 90, entrou em contato com o skate e o movimento hip-hop. A partir de 2005, começou a fazer tags, lambe-lambes, personagens e throw ups, também já pintou trens. 

Kota

Iniciou no movimento fazendo pichações no ano de 2005, por influência de um tio que pintava bomb, inicialmente na pichação, seguindo para o bomb. Hoje também é tatuador.

Scholz

A mulher curitibana, artista e grafiteira, iniciou nas artes pintando telas, roupas e caixas. Usa músicas, vivências e reflexões do dia-a-dia como inspiração.

Syen

Thiago Syen começou a fazer graffiti no ano de 97. Desde então, participou de diversos grupos/crews, como: “Açucena”, “Os 2 Ativo”, “Nois Suja City”, “Lançadores de Escrita”, “Vandalismo Supremo”, “192KG” e “Valetão”. Desde 2005, atua como professor e educador em projetos sociais, ongs e instituições, hoje trabalha como ciclo mensageiro.

Lorotas J (SP)

Nascido e criado na cidade de São Paulo, no bairro de Pirituba, se apegou aos rabiscos da cidade e aos 17 anos começou no bomb, assinando “jaum”, e hoje seu foco principal é a pichacão. No final de 2022, entrou para a turma identificada como Lorotas.

Mister Mark (SP)

O artista nasceu e foi criado na cidade de Sorocaba-SP, começou a rabiscar paredes em 2011 e, em 2013, teve o primeiro contato com o graffiti. É pintor, grafiteiro, ilustrador digital, animador 2D e tatuador, além de amante das multiartes.

Serviço

Abertura de “O lado sujo da Cidade Modelo”, com som comandado por Os Engraxates e pela Dj Mitay, quinta-feira, dia 19 de outubro, às 19h, na galeria Sfco 179 (Rua São Francisco, 179 – lojas 2 e 3 – Centro). Entrada gratuita gratuita. (Não é permitido ‘pixar’ o local.)

Exposição “O lado sujo da Cidade Modelo”, de 19 de outubro a 4 de novembro, de terça-feira a sábado, das 14h às 18h, na galeria Sfco 179 (Rua São Francisco, 179 – lojas 2 e 3 – Centro). A visitação é gratuita.

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