Google lembra aniversário de 90 anos de Quino

Todo cartunista que se depara com os desenhos de Quino sente-se uma fraude em maior ou menor escala

O ano de 2020 deixou a Argentina profundamente mais melancólica ao levar embora dois de seus maiores ícones culturais, Diego Armando Maradona e o pai da Mafalda, Joaquim Salvador Lavado, que assinava apenas Quino. Todo cartunista que se depara com os desenhos de Quino sente-se uma fraude em maior ou menor escala. Sinto isso desde quando li pela primeira vez uma tira sua em um livro didático.

Foi na segunda metade dos anos 80, eu já gostava de Schulz e Johnny Hart, já conhecia todos os cartunistas brasileiros, mas “Mafalda” me derrubou pelas escadas como o personagem de Robert Pattison ao se deparar com o imenso brilho da luz do farol, no filme de Robert Eggers.

Nesse instante descobri que eu precisava urgente de Mafalda como Don Birman necessitava de mais uma dose. Varri livrarias e sebos atrás de alguma publicação, um livro, um gibi, uma revista, um fanzine qualquer sobre aquele personagem que me pareceu tão intrigante e desafiador. Não havia nada. Eu andava ruas e mais ruas, dobrava esquinas, atravessava alamedas e saía sempre no mesmo lugar: o vazio.

Estávamos naquelas décadas deprimentes do Brasil onde Internet e esperança eram algo que não se imaginava existir. E, pior, em Ponta Grossa, um ponto do estado que nem mesmo o atraso chegava. Me restava ler obsessivamente o artigo de Umberto Eco em Apocalípticos e Integrados, na biblioteca pública da cidade – se não desfalecesse pela rinite causada pelos ácaros.

Esperei até o começo dos anos 90 para botar as mãos no fabuloso livro que compilava a série criada por Quino nos anos 70, “Toda a Mafalda”. Todos conhecem esse livro. Depois os de cartuns avulsos, muito melhores do que Mafalda. Quino desenhava calçadas, fachadas de prédios, árvores ressecadas, sofás e mãos de maneira encantadora. Um grande cartunista é um cartunista que sabe desenhar mãos. 

Hoje, 17 de julho, ele completaria 90 anos. E o Google Doodles o homenageou com um belo desenho em todas as duas páginas.

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