Com um começo massacrante que resume o trabalho que levou à denúncia de assédio sexual contra o apresentador de tv, Bill O’Reily e a revelação da gravação que mostrava Donald Trump, então candidato à presidência dos Estados Unidos, dizendo que pegava as mulheres “pela boceta”, She Said estreia nesta quinta, dia 9 de março, nas plataformas Prime Video e Apple TV.
O filme é baseado no livro homônimo das repórteres Jodi Kantor e Megan Twohey, do New York Times e descreve como ambas apuraram inúmeros casos de assédio e violência sexual perpetuados por Harvey Weinstein, um dos sócios fundadores do estúdio Miramax e da Weinstein Company.
O trabalho esbarra inúmeras vezes nas principais limitações desse tipo de apuração. Como provar um crime cujas únicas testemunhas às vezes são só a vítima e o agressor? No caso de Weinstein, a situação tinha agravantes, como o fato das vítimas serem obrigadas a assinar um contrato que as impedia de falar sobre o assunto e o fato do produtor ter contratado uma firma para espionar jornalistas e vítimas.
O trabalho de Kantor, Twohey (e Ronan Farrow, que também escreveu sobre Weinstein no livro Catch and Kill) é essencial para entender que apesar do crime acontecer entre duas pessoas e quatro paredes, o sistema que permite que ele aconteça envolve muito mais gente.
Tanto o livro quanto o filme também mostram o trabalho de convencimento das fontes e das vítimas para para permitir que seus nomes sejam citados, dessa forma dando mais força à reportagem. Para tanto, as repórteres tem pouco a prometer. Elas não têm como proteger as fontes, nem há como um jornal fornecer apoio legal a elas. Mas sem o rosto das vítimas, a reportagem seria muito menos impactante.
Tudo isso logo após a eleição de Trump, apesar das acusações de misoginia e assédio contra ele. Por outro lado, trabalhos de apuração semelhantes levaram à condenação de Bil Cosby, a demissão de Bill O’Reilly.
Não é um filme fácil de assistir, mas é também uma aula de como se navega por temas tão complexos numa redação. No fim, o esforço das repórteres e a coragem das vítimas resultou em diversas condenações de Harvey Weinstein, a primeira delas a 25 anos de prisão por violência sexual.
A reportagem também ajudou a combater o mito de que a maioria das denúncias de estupro são falsas. E que mulheres mentem para obter ganho financeiro. Boa parte da história sobre os estupros cometidos por Harvey mostram que o dinheiro, quando chegou às vítimas, serviu não para enriquecê-las, mas sim para calar qualquer tentativa de denúncia do crime.
She said (filme)
Prime Video ou Apple TV: disponível para locação ou compra
She said (livro)
Jodi Kantor e Megan Twohey
R$ 52,05 (ebook)
Sobre o/a autor/a
