Fazendo arte em coletivo: banda ímã lança novo EP nesta sexta-feira

Furiosa Aberta conta com quatro músicas produzidas inteiramente à distância e já está disponível nas principais plataformas de streaming

“O Furiosa Aberta tem tantos segredos e delicadezas para ouvir, ver e ler. É como um caleidoscópio que cada vez que a gente movimenta, ele se reconfigura e percebemos novas coisas com os mesmos elementos.” É assim que Luciano Faccini, um dos integrantes da banda curitibana ímã, descreve o novo EP do grupo: ‘Furiosa Aberta’. Lançada nesta sexta-feira (5), a obra é composta por quatro faixas inéditas que preenchem ambientes e corpos com uma sonoridade única e labiríntica.

Ao contrário do primeiro álbum da banda, o ímã de Nove Pontas, ‘Furiosa Aberta’ foi inteiramente sonhado, produzido e gravado no contexto de isolamento imposto pela pandemia. Diante da impossibilidade do encontro físico, o grupo precisou criar alternativas criativas para que as canções atravessassem as distâncias corpóreas. “Lançar o EP foi uma estratégia nossa de sobreviver como banda e se manter criando e criativos: repensar o que é possível, as formas de compor, de ter múltiplas vozes. Foi o nosso jeito de criar o material e usar as limitações que a gente tinha de alguma forma que compusesse parte da sonoridade do EP”, destaca Leo Gumiero, baixista e sintetizador da ímã.

A partir da parceria com as poetas Francisco Mallmann, Natasha Tinet e Julia Raiz, três composições foram criadas: Furiosa Aberta, Monika e o Futuro e Cidade Assionara Souza, respectivamente. Day Battisti, a violoncelista da ímã, conta que o processo de criação das canções se baseou em brincadeiras de composição e arranjos. Os integrantes da banda foram divididos em grupos e cada um musicava um trecho de cada poema. Surgiu, então, uma enxurrada de ideias e intuições. “A gente discutia muito sobre não se limitar, para ser uma criação bem aberta. Hoje é muito legal ouvir e identificar como surgiu cada pedacinho”, relata. 

Poetas

“Para mim, que estou trabalhando com a palavra, articulando e pensando escrita, é um maravilhoso susto ver como isso pode se tornar música. Entender essa vibratilidade da palavra como essa matéria que pode ser cantada, que pode virar som. Antes de toda e qualquer coisa há esse desbunde de deslumbramento”, afirma Francisco Mallmann, autor do poema musicado que dá nome ao EP.

Para o poeta, Furiosa Aberta é uma espécie de rearranjo em que as palavras se repetem e produzem diferentes formulações a cada vez que se reúnem, num movimento de encaixe e desencaixe. “Tem algo bonito de aprendizado que é como cantar fúria com ternura. Essa música para mim tem algo sobre isso, dizer a palavra furiosa com essa espécie de delicadeza. E eu agradeço muito pela ímã não me deixar mais esquecer que agora, mesmo furiosa, a gente pode manter as nossas ternuras resguardadas.”

Julia Raiz, autora de Cidade Assionara Souza, relembra que o poema já havia virado canção antes mesmo da ideia do EP. “Foi ver se transformar de novo: o poema em canção e a canção em outra até chegar em como está em ‘Furiosa Aberta’.”

Foi no canto de um caderno, durante o intervalo de uma aula, que o poema tomou forma. “Comecei a rascunhar porque estava pensando na Nara, preocupada, e comecei a anotar algumas coisas nesse fluxo. Eu acho que esse espaço de anotar do ladinho fez o poema ser espiralado nesse sentido, várias imagens estavam correndo na minha cabeça naquele momento”, conta.

“Quando o Lu me falou que ia usar Monika e o Futuro no projeto foi aquela coisa: ‘Como o pessoal da ímã vai vestir essa música?’ e eles conseguiram construir essa estrutura musical que é de uma complexidade de instrumentos. Dá uma ideia de alquimia musical”, relata a artista Natasha Tinet.

Natasha, que também assina as artes do EP, fala que a criação das capas foi um processo de entender como tudo se conectaria. “O EP tem essa ideia de transformação, de um ser que se transforma e voa. Para mim, o ‘Furiosa Aberta’ tem muito a ver com desejo: desejo de afeto, de proximidade, de futuro – que foram coisas muito apagadas ano passado. E a mariposa, asas abertas, parece que é um voo sutil, mas causa coisas furiosas, e não no sentido de destruição, pelo contrário, é dessa força do desejo.”

Capa de ‘Furiosa Aberta’. Imagem: Divulgação

Uma coletividade possível

Por definição, ímã é algo “capaz de produzir um campo magnético ao seu redor”, ou “coisa que atrai”. Assim como o objeto, a banda homônima magnetiza diferentes públicos e artistas para viver essa experiência da coletividade e do afeto. 

No entanto, por conta da pandemia, não só a convivência dos nove integrantes da banda ímã teve de ser repensada, como também todo o processo de produção e gravação das músicas. “É um momentinho agridoce. É controverso porque é um momento gostoso de lançar isso que a gente se dedicou tanto e de não poder estar fisicamente presente com as pessoas e com essa energia toda da ímã que é uma coisa dançante e sempre uma multidão”, expõe Guilherme Nunes, guitarrista da banda.

Furiosa Aberta

Somando as sonoridades e subjetividades dos membros da banda com as parcerias poéticas, a ímã produz um encontro improvável e rebelde de sensibilidade e delicadeza em tempos conturbados. “É um trabalho artesanal sem uma mensagem construída para ser sentida e que cada pessoa vai reverberar de alguma forma. Para mim, é muito forte a sensação do furiosa/amor e do furiosa/aberta e tantas possibilidades que têm no palpável dessas palavras, no desenho que elas fazem na boca, no ar e nas sensações”, diz Má Ribeiro, percussionista e vocalista. 

“O ‘Furiosa Aberta’ é muitas coisas. É comunicação afetiva, criação como sobrevivência, redes de apoio. É, apesar de tudo, conseguir lidar com a nossa fúria mas sem esquecer da nossa delicadeza”, finaliza Luciano.

A obra pode ser ouvida gratuitamente nas principais plataformas musicais como Youtube, Spotify, Deezer e Apple Music, e no site oficial da banda.

Quem é a ímã

Dayane Battisti: violoncelo, violão, cavaquinho e voz

Francisco Okabe: violão de 7 cordas, cavaquinho, flauta e voz

Luciano Faccini: clarineta, violão, guitarra e voz

Leonardo Gumiero: baixo, sintetizador e voz

Má Ribeiro: percussões e voz

Guilherme Nunes: guitarra

Daniel D’Alessandro: bateria e percussões

Yasmine Matusita: bateria e voz

Roseane Santos: voz

Créditos

  • Arranjos e concepção: ímã
  • Direção artística: Luciano Faccini
  • Produção musical: ímã + Leonardo Gumiero
  • Artes gráficas: Natasha Tinet
  • Fotos: ímã
  • Elaboração do projeto fotográfico: ímã + Tárcilo Pereira, Walter Thoms e Laís Melo
  • Montagem das fotos: Tárcilo Pereira e Walter Thoms
  • Fotografia das montagens: Walter Thoms

No Coração do King Kong (ímã)

Francisco Okabe: flauta transversal

Daniel D’Alessandro: bateria, percussão

Day Battisti: violoncelo

Gui Nunes: banjo, guitarra

Leonardo Gumiero: baixo, sintetizador

Luciano Faccini: clarineta, banjo, violão

Má Ribeiro: voz, teclado

Yasmine Matusita: tamborim, caxixi

*Lorenzo Molossi: samples

*part. Roseane Santos: voz

Cidade Assionara Souza (Julia Raiz & Luciano Faccini)

Francisco Okabe: violão 7 cordas

Daniel D’Alessandro: bateria, percussão

Day Battisti: cavaco

Gui Nunes: voz, guitarra

Leonardo Gumiero: baixo, sintetizador

Luciano Faccini: voz, violão

Má Ribeiro: voz, pandeiro, ganzá

Roseane Santos: voz

Yasmine Matusita: voz, tamborim

*part. Julia Raiz: voz

*part. Fernanda Fuchs: voz

Monika e o Futuro (Natasha Tinet + ímã)

Francisco Okabe: Violão, flauta transversal, samples

Daniel D’Alessandro: percussão, bateria

Day Battisti: voz, violoncelo

Gui Nunes: guitarra, violão, ukulele

Leonardo Gumiero: baixo, sintetizador, bateria

Luciano Faccini: voz

Má Ribeiro: voz

Yasmine Matusita: voz, samples

*part. Fernanda Fuchs: voz

Furiosa Aberta (Francisco Mallmann & Luciano Faccini)

Francisco Okabe: flauta transversal

Daniel D’Alessandro: Bateria, pia, percussão

Day Battisti: violoncelo

Gui Nunes: sarod, ukulele, violão e banjo

Luciano Faccini: violão, voz

Má Ribeiro: escuta e pitacos

Yasmine Matusita: caxixi

*part. Roseane Santos: voz

*part. Francisco Mallmann: voz

Reportagem sob orientação de João Frey

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