Contardo Calligaris tinha algo a dizer sobre o sentido da vida e aceitou o desafio de apresentar uma palestra sobre o assunto em 2019. Então passou o ano inteiro pesquisando, tomando notas e falando sobre o tema em várias ocasiões. Agora, o livro póstumo e inédito “O sentido da vida” é resultado dessa experiência do escritor e psicanalista que morreu dois anos atrás.
O texto tem uma qualidade que é bem impressionante: você lê o livro com a sensação de que está numa boa conversa com Calligaris (1948–2021). Esse era o estilo dele, inclusive nos textos que publicava todas as semanas na “Folha de S.Paulo”.
Contardo Calligaris
Com inteligência e leveza, Calligaris consegue passear pela filosofia e pela arte, evocar memórias de família e oferecer insights capazes de deixar você pensando na vida – e no sentido dela – por bastante tempo.
E não se pode negar que o sentido da vida é um tema arriscado, porque pode enveredar fácil para o discurso raso e utilitário da autoajuda, na linha de “os sete hábitos das pessoas felizes”. Ou para elucubrações inacessíveis a alguém que não compreende conceitos kantianos complexos (e dizer “kantianos complexos” é uma redundância). Ou ainda para promessas religiosas de outras vidas que não essa aqui.
“Em vez de me preocupar com a felicidade e seu mistério, preferia me esforçar para viver uma vida interessante”, diz Calligaris, logo nas primeiras páginas. Em seguida, emenda: “O que seria uma vida interessante?”.
O sentido da vida
Ele passa as próximas cento e poucas páginas explorando respostas possíveis para essa questão, seja nas frases ditas pelo próprio pai, seja na experiência como terapeuta. Pela elegância do estilo e pela distribuição do texto nas páginas, “O sentido da vida” é o tipo de livro que você pode ler numa sentada (e deve ler mais de uma vez).
Afinal, essa pergunta sobre qual é o sentido da vida não é simples de responder. Ainda que os argumentos de Calligaris sejam envolventes, não é como se ele estivesse tentando te convencer de qualquer coisa. A ideia não é essa.
No prefácio do livro, o filho do autor, Max Calligaris, oferece uma chave para entender o raciocínio do pai: “Ele acreditava que tentar impor os seus argumentos ao outro ou mesmo orientá-lo (…) era uma grande perda de tempo. Se um argumento fazia o outro refletir, maravilha; senão, paciência”.
Livro
“O sentido da vida”, de Contardo Calligaris. Paidós (Editora Planeta), 144 páginas, R$ 51,90. Ensaio.