Cineasta Stéphane Brizé procura ver sentido na vida simples

Diretor francês quer descobrir o que existe no íntimo de pessoas que estão tentando fazer alguma coisa com suas vidas

Você pode ir ao cinema para escapar um pouco da vida. Ver um filme que fale de super-heróis ou da monarquia britânica, ou de qualquer outra coisa fantástica ou absurda. Mas escapar não é regra. E eventualmente você pode querer ir ao cinema para ver outras vidas como a sua. Histórias sobre pessoas comuns que, por estarem ali na tela grande (ou na pequena, em casa), ganham um sentido diferente. Ou melhor, ganham um sentido. Stéphane Brizé é um especialista nisto: em ver sentido nas vidas simples.

Stéphane Brizé

Brizé gosta de ver pessoas comuns lidando com momentos importantes da vida. Como o pedreiro casado que se apaixona por uma professora de música em “Mademoiselle Chambon”. Ou o contador de meia-idade que decide combater a solidão fazendo aulas de tango no filme “Dançar, despertar de um desejo” (mais um péssimo título em português; no original, o título diz “eu não estou aqui para ser amado” – um título lindo para um filme lindo).

No elenco, Brizé parece gostar de trabalhar com o ator Vincent Lindon, um sujeito muito particular dado a viver personagens brutos, toscos e violentos, mas também sensíveis em algum nível. 

Com Brizé, Lindon fez cinco filmes. Três deles falam sobre a classe trabalhadora da França em conflito com o poder e o dinheiro (ou com quem tem poder e dinheiro). Nesses filmes, Lindon se reveza entre ser o funcionário que luta por mais direitos (no filme “Em guerra”), o gerente que tenta defender sua equipe enquanto vive uma crise conjugal (“Un autre monde”) e o responsável pela área de segurança de um supermercado (“O valor de um homem”). Os três papéis são tão próximos um do outro que pode ser difícil distinguir entre os filmes. Mas eles formam um tríptico: três retratos de um mesmo problema.

Os outros dois filmes que Brizé fez com Lindon mostram um ex-presidiário que sai  da cadeia para morar com a mãe (eles não se dão muito bem). E o pedreiro sensível de “Mademoiselle Chambon” (o ator contracena com sua esposa à época, a atriz Sandrine Kiberlain).

Um vulcão

Esse interesse de Brizé por Lindon faz sentido porque o diretor tem o impulso de descobrir o que existe no íntimo de pessoas que estão tentando ganhar a vida, que têm medo de perder o emprego, que estão ficando velhas demais para o mercado e para o mundo (assim diz o mundo), e que precisam administrar uma família. 

E Lindon personifica muito bem esse tipo de personagem. Ele parece um vulcão prestes a entrar em erupção. Se for assim, os filmes de Brizé são como lava.

Onde assistir

A plataforma Reserva Imovision exibe quatro dos nove longas-metragens realizados por Stéphane Brizé: “O valor de um homem” (2015), “Dançar, despertar de um desejo” (2005), “Mademoiselle Chambon” (2009) e “Uma primavera com minha mãe” (2012).

A MUBI está exibindo “Un autre monde” (2021).

Por fim, “A vida de uma mulher” (2016) está disponível para ser comprado ou alugado no streaming.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima