“A origem do mundo” começa bem, mas depois se perde 

Em filme produzido pela Netflix, o ator Laurent Lafitte estreia na direção com uma história sem pé nem cabeça

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Além de ser um bom ator, Laurent Lafitte tem senso de humor. Então ele é capaz de atuar tanto em filmes intelectuais quanto em produções populares. “A origem do mundo”, em cartaz na Netflix, se encaixa no segundo grupo.

Trata-se de uma comédia com um terço genial e dois terços bem ruinzinhos. A história, que Lafitte adaptou de uma peça de teatro escrita por Sébastien Thiery, fala de um homem de meia-idade, chamado Jean-Louis Bordier, que um dia descobre que seu coração parou de bater. 

Ele continua vivo, respirando e falando, e o fato do coração ter parado de bater não tem nenhum impacto prático na sua vida. Ainda assim, ele entra em pânico e pede ajuda a um amigo, que é veterinário (algumas das melhores piadas do filme são com esse amigo, interpretado por Vincent Macaigne).

“A origem do mundo”

Sem saber direito a quem recorrer – se for ao hospital, ele tem medo de ser internado –, Bordier se deixa influenciar pela esposa, Valérie (Karin Viard, de “A família Bélier”). 

Ela curte medicina alternativa e leva o marido para se consultar com uma terapeuta estranhíssima, que faz uma exigência pra lá de inusitada: se Bordier quer que seu coração volte a bater, ela precisa ver o lugar de onde veio: a vagina de sua mãe. (Daí o filme se chamar “A origem do mundo”, numa referência ao quadro de Gustave Courbet, que está no Louvre.) Da impossibilidade de ver as partes íntimas pessoalmente, a terapeuta diz que uma foto resolve o problema. Resolve um, mas cria vários outros. 

A mãe de Bordier é uma senhora octogenária com a qual o filho não se dá muito bem. Na verdade, sem qualquer motivo evidente, eles não se falam há anos. Nada de ruim aconteceu. Eles simplesmente não convivem um com o outro, não se interessam um pelo outro.

Uma vítima

A personagem da mãe é o divisor de águas da história. É quando tudo começa a degringolar. Vivida por Hélène Vincent, a mãe é uma senhorinha amorosa, frágil e ingênua. Assim que ela aparece, você tem certeza de que ela é uma vítima. 

Numa comédia absurda, em que todo mundo não bate muito bem da cabeça, a mãe é a única pessoa coerente – e sofre bastante com isso. 

O humor ágil do começo, baseado no diálogo de Bordier com o amigo veterinário, dá lugar a um humor pastelão que não tem nenhuma graça e parece ultrapassado. Como se, de repente, a Netflix tivesse feito uma versão francesa dos Trapalhões.

Filme

“A origem do mundo” está em cartaz na Netflix.

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