Adultei

Durante a madrugada faço 10 dias ao banheiro. Ao deitar na cama, percebo um torcicolo. Pano com água quente para passar. Derrubo a água no sofá. Resolvo tomar remédio. Engasgo. Vomito, infelizmente, o líquido e o remédio também. Limpo com o pano usado. A garrafa de água, que cabe dois litros, esvazia-se novamente enquanto assisto um filme. Agora um filme e meio. Tento ler mas não estou focada o suficiente. Dormir já desisti. Preciso relaxar mas é impossível. Vídeo no YouTube de meditação, mas não funciona. Viro na cama. Reviro. Me levantei às 2h07. Olho o relógio. 4h15. Volto para a sala. Resolvo trabalhar, já que provavelmente não estarei disposta no dia seguinte. Vou ao banheiro de novo e o som da privada nunca pareceu tão alto. Ando pela casa. Nada funciona. Tento tomar dois relaxantes musculares mais uma vez. Duas horas depois ainda nada aconteceu. São 6h35 agora. No dia que está por vir tenho trabalho, tenho ginástica, tenho autoescola. Tenho que preparar almoço, lavar louça, arrumar a casa….

Não sei mais o que fazer comigo mesma, mas tudo isso está fora de questão agora se eu não quiser acordar meu namorado ou algum vizinho. Vejo outro vídeo no YouTube, deitada na cama, e realmente não sei como será o dia de amanhã.

Olho em volta do quarto e percebo que meus olhos se acostumaram à escuridão faz tempo. A pilha de roupas no canto, em cima de uma cadeira, não parece mais uma figura oculta. Ainda é bem assustadora, entretanto. Vou ao banheiro pela, o que deve ser, décima quinta vez da madrugada. A luz natural entra pela janela e o banheiro está bem iluminado.

Tenho tanta coisa para fazer durante o dia que se eu tivesse alguma energia poderia fazer agora. Mas não consigo. Sem energia para ser produtiva, mas alerta demais para pregar os olhos.

Por que acordei? Não sei. O que será de mim? Também não sei. Penso nas angústias diárias. Nas ansiedades que tenho sentido. Preciso tirar a carteira. Preciso de um emprego bom. Preciso de uma rotina mais organizada. Preciso dar mais prioridade aos meus projetos pessoais. Preciso parar de procrastinar. Preciso estudar melhor minhas habilidades, fazer cursos novos, adaptar-me. Preciso me planejar para o futuro, e para, no mínimo, os meses seguintes. Preciso correr mais riscos,  mas não posso ser  burra. Preciso perder o medo. Preciso, preciso, preciso… Mas prece que nunca consigo. E nunca é o suficiente.

O que irei fazer de mim?

Eu me sinto um caco. Quero acordar deste pesadelo logo.

Mas, para isso, é claro, preciso dormir.

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