Isolamento social dia 115

Querido diário: o frio piora lá fora. O inverno está sobre nós, tanto no sentido térmico quanto no sentido metafórico. As mortes de Covid-19 aumentaram em várias cidades, inclusive aqui, e a tristeza é absoluta. No meio disso tudo temos que ver o presidente Bolsonaro dizer que usar máscara é “coisa de viado”.

Finalmente aconteceu! Eu esperava por esse dia há décadas.

Sabe, querido diário, na minha infância e adolescência as pessoas tinham mania de dizer que menino chorar ou ter qualquer demonstração de sentimentos era “coisa de viado”. Tive parentes que não podiam receber beijo no rosto ou afago porque achavam que isso era “coisa de viado”.

Mas agora, com a ajuda do presidente da República, “coisa de viado” vira a nova expressão de “você está fazendo a coisa mais inteligente a se fazer neste momento”.

Você viu uma pessoa que tomou uma atitude inteligente e positiva? Coisa de viado.

Parou um briga, dando argumentos que as pessoas ouviram? Coisa de viado.

Impediu mortes, cuidou das pessoas e salvou vidas? Coisa de viado.

O idioma agradece essa transformação da expressão. Se eu já fazia “coisas de viado” antes, espero continuar fazendo cada vez mais.

Ah, e não esqueçamos! Temos uma outra expressão idiomática novinha, inventada para ofender fundo na alma. Porque toda vez que alguém for misógino, preconceituoso, idiota ou desrespeitar a vida, a gente sempre vai dizer que isso é “coisa de Bolsonaro”. Nem é uma expressão idiomática, é uma expressão idiotomática.

(Viu o trocadilho que eu fiz, em que misturei idiomática com idiota? Coisa de viado!) 

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