Ficção ou não ficção

Decidi escrever um texto de teatro para você fazer na sua cidade, neste período de eleição. Completamente ficcional. Sinta-se livre para encená-lo na sua região, usando sotaques da cidade, detalhes que preferir acrescentar.


Sala de reunião. Uma mesa, quatro cadeiras, um mapa da cidade ao fundo. PUXA 01, PUXA 02 e ÚNICO estão sentados esperando. Entra EL CHEFE.

El Chefe – Que bom que todos vocês estão aqui!

PUXA 01 e 02 ficam em pé, com cara de animação.

Puxa 01- É um prazer, senhor!

Puxa 02 – Imenso!

ÚNICO TÉCNICO QUE SOBROU NAQUELE DEPARTAMENTO QUE NÃO É NECESSARIAMENTE VINCULADO A UM DOS PARTIDOS POLÍTICOS DA CIDADE (doravante chamado apenas de Único) está sentado, incomodado com o espetáculo de hipocrisia.

Único – Olá.

El Chefe – Então, sobre o que é a reunião?

Único – Eu que pedi, é que eu preciso conversar com vocês sobre planejamento urbano.

El Chefe – Ótimo, eu entendo tudo disso.

Puxa 01 – Eu sabia! Gênio.

Único – Como?

El Chefe – Como o quê?

Único- Como que você entende tudo disso?

El Chefe – Eu estudei, eu sei, eu vi.

Puxa 02 – Ele é demais, mesmo.

Único – Mas… Essa não é sua área. Que eu saiba, você era apenas um (colocar aqui a profissão do sujeito antes do cargo que agora ele ocupa)

El Chefe – Isso mesmo! Mas quando fui indicado por (colocar nome, ou “prefeito”, ou “titito” ou outro apelidinho carinhoso”) eu queria fazer o melhor e fui estudar!

Puxa 01 e Puxa 02 aplaudem juntos.

Único – Ah! Faz mais sentido. Parabéns pelo esforço. Qual pós?

El chefe- Pós? Pós? Tipo o pó que faz obras? É esse tipo?

Único- Você tá falando sério?

El Chefe – O que eu falei que… Ah, desculpe, que erro grosseiro!

Puxa 01 – Não precisa se desculpar, nunca!

Puxa 02 – Afinal, você só acerta. E é lindo.

El Chefe – Eu não conjuguei o verbo pós certinho, né? Porque é plural. Eu não conjuguei no plural. É assim que fala? Eu vi no Tweeter alguém falando que o ministro errava feio. Eu não. Eu estudei.

Único – Mas não é uma pós?

El Chefe – Imagine que eu ia estudar só pós. Estudei cimento, ponte, asfalto, escambau.

Único – Onde você estudou?

El Chefe – É… You…

Puxa 02 – MEU DEUS! Ele estudou no estrangeiro!

Puxa 01 – “A-mazing”!

Único – Ah! Em Nova Iorque, na NYU? Que interessante, nem sabia de pós em…

El Chefe – You… Tube. É lá onde aprendo de tudo. Mas fala aí.

Único – É que… Bom, preciso terminar o planejamento da colocação do asfalto.

El Chefe – Fácil!

Puxa 01 – Fácil pra você, que sabe o que faz!

Puxa 02 – É fácil quando se sabe!

El Chefe – Cadê os pontos que vão ser asfaltados?

Único – (entrega um calhamaço de papéis pra El Chefe) Aqui.

El Chefe – Maravilha. Faz essa, essa, essa e essa na última semana útil de fevereiro.

Puxa 01 – Que decidido!

Puxa 02 – Que homem!

Único – Mas… Isso é loucura!

El Chefe – Tá me chamando de louco?

Puxa 01 segura Único pela gravata, Puxa 02 coloca uma caneta perto do rosto dele.

Único – É que… essas são as vias principais da cidade!

El Chefe – E daí?

Único – E daí que, nesta semana, tem um monte de escola e universidade voltando às aulas!

El Chefe – E daí?

Único – E daí que uma das outras avenidas vai estar parcialmente bloqueada por conta da estrutura do carnaval de rua!

El Chefe – E daí?

Único – Daí que é um caos! Um longo engarrafamento! Pra todos os lados!

El Chefe – AH! Você tá pensando nisso?

El Chefe ri. Os dois Puxas largam Único e riem também, meio sem entender, apenas imitando El Chefe.

Único – Não entendi…

El Chefe – É que você tá pensando em trânsito.

Único – Sim. Não era isso que a gente deveria pensar neste departamento?

El Chefe – A gente não pensa em nada esse ano que não seja a eleição do meu amado (repetir o apelido carinhoso que ele usou anteriormente).

Puxa 01 – Isso mesmo!

Puxa 02 – Apoiado!

Único – Mas eu… Não posso apoiar uma coisa dessas, apenas em benefício próprio. Precisamos pensar na cidade, no bem-estar do cidadão pagador de impostos, no fluxo do nosso trânsito. Não em ganhos políticos, não nessa espécie de “propaganda”, das pessoas repararem na existência das obras. Precisamos pensar mais amplamente.

El Chefe – Eu penso amplamente que, fazendo essas obras nesta semana, o meu adorado (apelido carinhoso) pode colocar você num cargo mais elevado ainda neste semestre.

Único – … e bóra fazer as obras!

Puxa 01 – Apoiada! Eu já recebi meu cargo!

Puxa 02 – Apoiado! Eu nem preciso de cargo, não tenho opinião própria.

O lugar vira uma festa, afinal agora a hipocrisia é de todos. FIM

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima