Os capirotinhos da vizinhança

As crianças do meu condomínio (também conhecidas como: bando de filadaputinh@s que passam o dia gritando em volta do meu prédio, em vez de jogar Playstation e assistir YouTube como uma criança normal – contém ironia, claro) são as melhores piores mini pessoas pra se ter como vizinhos.

Explico.

Dia desses começou a garoar e, imediatamente, o assunto deles virou esse: De onde vem a chuva.

– Você sabia que a chuva vem de deus?

– Claro né, porque tudo vem de deus. Dãr!

– E a chuva pode ser três coisas diferentes. Pode ser deus chorando, oooooou deus mijando, oooou… *PAUSA*

– Ou o quê?

– Me esqueci… Mas tem mais uma coisa.

– Acho que é cuspe.

– Sim. Isso mesmo. Ou é deus cuspindo na gente.

Eu tô em completo choque com a religiosidade nada higiênica dessas crianças.

Não que a humanidade não mereça e tals. Mas ecat.

Num outro dia. cheguei do trabalho e logo em seguida parou uma ambulância bem no meu bloco.

Aí a criançada começou a gritar (GRITAR MESMO):

– Meu deus, alguém morreu!

– Alguém morreu!

– Moço, quem morreu?

– Imagine se é seu pai, Pietro!

– Pode ser seu pai!!!! É seu bloco Pietro! (PÓBI PIETRO)

– Não deve ser o pai dele não, deve ser aquele italiano bem velho.

– É mesmo deve ser.

– Meu deus o velho morreu!

– Moço, foi o velho que morreu?

Desse nível.

A porteira teve que vir mandar os capirotinhos se afastar porque eles estavam feito uns maníacos em volta da ambulância, enlouquecendo os paramédicos que não conseguiam nem descer com os equipamentos.

Depois de muita bronca da porteira, eles até se afastaram. Um pouco, bem pouco. Ficaram todos a postos do outro lado da calçada, só aguardando ansiosos pra ver o morto, né.

Enfim os médicos entraram, demoraram um pouco lá dentro, e a criançada lá fora, nervosa, debatendo sobre o morto, e super “preocupados” ainda gritando pra se comunicar com todo o condomínio.

– Ai que dó do velho!

– É! Coitadinho!

– Do quê que ele morreu, será?

– É porque ele é muito velho, né?

– Ai meu deus! Eles não vão conseguir tirar ele de lá, porque ele é muito gordo!

– Verdade! Vão ter que quebrar a parede!

– Nossa Pietro, vão quebrar a parede do bloco que você mora pra tirar o velho morto!!!

Percebam que nada disso foi dito como brincadeira ou tiração de sarro. Nada disso! Não tinha risadinhas. Não tinha ironia.

Era tudo em tom de real preocupação.

Aí, levou um tempinho e eis que saem os médicos E O SENHOR ITALIANO de dentro do bloco.

Sim eles acertaram!

A vítima era mesmo quem eles imaginaram que era.

(Pietro deve ter ficado aliviado, né?)

Porém o senhor estava vivíssimo e saiu caminhando, embora os médicos tenham insistido pra ele sentar na cadeira de rodas, ele deu uns resmungos e não sentou.

Ele é desses.

Mas o melhor de tudo mesmo foi que ao avistar o senhor saindo do prédio VIVO, uma média de umas 10 crianças (foram chegando mais e mais ao longo do drama) começaram a *simplesmente* APLAUDIR E GRITAR MUITO ALTO E MUITO FELIZES:

– O VELHO TA VIVOOOO!!!!!!

– O VELHO TÁ VIVO!!!!!

– AEEEEEEEE O VELHO TÁ ANDANDO!!!!

– ELE VIVEUUUUU!!!!

– O VELHO NÃO MORREEEEU!!!

– PARABÉNSSSS!

É isso.

Odeio esses pirralhos maravilhosos.

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