Todos os dias muitos alunos do Colégio Medianeira passam pelo Rio Belém a caminho das aulas – e não é difícil perceber que aquela água está bastante poluída. Mas uma coisa é perceber a situação empiricamente, outra bem diferente é explorar o assunto usando a metodologia científica. Foi isso que a garotada fez nas aulas para saber o que realmente estava acontecendo com o rio, um dos principais da cidade em que eles vivem.
Depois de coletar um pouco da água do rio, os alunos de oitavo e nono anos pegaram mais duas amostras que serviriam para comparação no estudo: um pouco de água tratada da torneira e um tanto de água do lago que fica dentro dos muros do próprio Medianeira. O material foi levado para laboratório e, com uso de microscópios, os meninos e meninas puderam ver partícula a partícula o que havia nas amostras.
“Uma coisa é a informação, outra bem diferente é o conhecimento”, ensina Mayco Delavy, coordenador pedagógico do Medianeira e um dos responsáveis pela organização da Feira das Linguagens – um evento anual que, entre outras coisas, serve para mostrar o aprendizado científico dos alunos do Fundamental II (sexto a nono anos) e do Ensino Médio. “É a hora de eles exibirem para a comunidade interna e externa o que foi aprendido. Eles têm que perceber que não basta ter informações soltas, que é preciso relacionar as coisas para que elas se transformem num conhecimento sólido”, diz Delavy.
A ideia de feiras de ciência nas escolas não é nova – mas num ambiente pedagógico que passa por tantas mudanças (muitas delas orientadas por modas passageiras), manter a ideia de que os alunos precisam dominar o método científico é algo de extrema importância. “A gente vê muitas vezes uma atividade meio falseada, em que os alunos fazem feiras de ciências e só leem cartões. O importante do nosso ponto de vista é que eles aprendam a metodologia científica, para poder produzir conhecimento por conta própria”, afirma o coordenador pedagógico.
No Medianeira, os alunos de cada ciclo recebem um tema para trabalhar – um eixo de conhecimento. E nem sempre são relacionados às ciências naturais, às exatas. Porque nem só de Física, Matemática e Química vive o conhecimento. Pelo contrário, num momento em que o meio ambiente é uma preocupação global, a carta encíclica do Papa Francisco sobre a “Casa Comum” foi a base para que os alunos estudassem a Natureza e o mundo à sua volta.
Em outro eixo, que envolveu os estudantes de sexto e sétimo anos, a ideia era estudar a sociedade. E um dos trabalhos, por exemplo, surgiu de uma parceria com o Museu do Holocausto. Depois de conhecer a “pirâmide do ódio”, que mostra que todo genocídio começa com um preconceito contra um grupo de pessoas, a meninada saiu a campo para aplicar questionários e ver como as pessoas a seu redor pensavam sobre “o outro”, sobre tolerância e sobre preconceito.
Para não ficar apenas na primeira amostra, e para aprender como se faz cruzamento de dados, os estudantes aplicaram o mesmo questionário a pais e visitantes que foram ver a feira de conhecimento do colégio. “Nós acreditamos que a metodologia das Ciências Humanas é importante não apenas para a produção de conhecimento, mas também para filtrar as informações que vão chegar até eles”, diz Delavy. “Num mundo cheio de gente produzindo conteúdos falsos, é de extrema relevância ter um olhar crítico e capaz de perceber quando se trata de informação não qualificada.”
Neste ano, depois de um longo intervalo causado pela pandemia, a Feira do Conhecimento foi retomada sob o guarda-chuva da Festa das Linguagens, que também conta, entre outras coisas, com a Feira de Livros. Tudo no espírito de formar alunos que não sejam apenas capazes de responder provas, mas que sejam capazes também de exercer sua cidadania.