Como narrar a História recente do Brasil

Robson Vilalba, em Um Grande Acordo Nacional, da editora Elefante, impressiona pela capacidade de concisão e abrangência na HQ

História, com H maiúsculo. Assim é o novo livro de Robson Vilalba. O autor da HQ Um Grande Acordo Nacional resume tão bem o golpe contra Dilma, começando pelos protestos de 2013, e explicando o estado das coisas em que estamos no Brasil, que Vilalba é mais do que autor. Além de roteirizar e desenhar, ele poderia ser professor de História para as gerações futuras.

Me deu dor no estômago, revolta, sensação de “como que eu não vi isso”, de impotência e também muito nojo, frente ao descaso com o nosso país.

O livro deveria ser distribuído em escolas e faculdades. Merece vários clubes de leitura e debates (eu fui no bate-papo na Itiban, em que Rogério Galindo foi mediador. Foi quando comprei o livro).

Vilalba fez uma série de entrevistas para elaborar o roteiro da HQ. Entre elas, tentou entrevistar Dilma em Curitiba, no Circo da Democracia. (Todas as entrevistas e auxílios para o livro estão creditadas no final).

Eu não sabia, por exemplo, que Janaína Pascoal cobrou de Miguel Reale Junior 45 mil reais pela ação contra o governo de Dilma Rousseff. O PSBD pagou. Não deu em nada, pois Eduardo Cunha começou a dar as cartas no Congresso. Ele havia formado o centrão pouco antes, em confabulações políticas secretas, e tinha sido eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2015. 

Em agosto do mesmo ano, manifestações pró-impeachment foram feitas, desta vez contando com a presença dela, Janaína. 

Essa é uma pequeníssima parte do que Vilalba nos mostra. Num vaivém entre a tentativa de entrevistar a presidenta e os movimentos das ruas e do Congresso, ele é um observador ativo de tudo que ocorreu. Impressionante a capacidade do autor de elaborar tal narrativa. Concisa e abrangente.

Vilalba não poupa ninguém. Expõe os “dois PTs”. Diálogos com um petista e um integrante da CUT – ambos de alto escalão e sob sigilo – mostram o que o partido, Lula e a central única teriam feito ou deixado de fazer.

Há uma cena, onde aparece o presidente eleito em 2018, que é emblemática. O que aquele deputado federal fez, além de não trabalhar? Isso.

A Lava Jato merece todo um capítulo, com destaque para o ex-juiz Sérgio Moro, desde a primeira fase, com a prisão de Alberto Youssef vista dos bastidores, e a ligação que levou a PF à Petrobras. Alguém lembra disso?

O livro termina como começou: dia 8 de agosto de 2016, no Circo da Democracia, em Curitiba, onde Vilalba mora. A pergunta que ele faria. “De maneira paradoxal, a antidemocracia chegou ao poder. E usou a democracia para isso.”

Ilustrador e animador, Robson Vilalba é formado em Ciências Sociais pela UEL e mestre em Sociologia pela UFPR. Ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Direitos Humanos em 2014. Entre outras, foi diagramador das minhas páginas na Gazeta do Povo e, na época, me ajudou a enfrentar a redação e iluminou o meu caminho. 

Sobre o/a autor/a

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