A Argentina mereceu ganhar a Copa. Já merecia antes mesmo da final, não tanto pelo motivos técnicos que envolvem escalação de jogadores, estratégias de time e orquestração do técnico. Até porque eu mesmo como fanático ocasional — só torço na Copa — não saberia comentar muito sobre essa parte mais racional e científica.
O merecimento de que falo brota do espírito pulsante pela vida que brota no grito de gol. Ecoa da garganta de quem sai pulando na rua. É só um jogo e são só noventa minutos, mas e daí? Celebrar é sobre estar vivo, sobre amar, conectar com os outros para além do estádio e também fazer a própria cidade vibrar trêmula de alegria. E o que importa se o dia seguinte é segunda-feira e a rotina voltará ao normal? Só não canta a vitória quem já morreu. E como cantaram, pularam e vibraram os argentinos. E choraram, gritaram, quebraram os televisores. Já tinham ganhado esse torneio mais pela paixão do que pelo jogo. Ocuparam as praças por pura alegria. Milhares na rua com cânticos entoados, espuma de festa, bandeiras ao vento. Uma nação inteira fazendo o ar encher de felicidade e não foi só pelo título, foi por tudo aquilo pelo qual não se é possível dizer nem gritando, mesmo assim foi dito e depois reverberado até o céu pelo carnaval espontâneo que nasceu em cada esquina.
Talvez nós brasileiros precisamos lembrar mais uma vez que o futebol também é festa, pois disso entendemos bem. Essa pode ser a gênese das nossas seleções campeãs, isto é, a festa que sabemos fazer com tanto afã e despretensão. Recordar com os vizinhos que a camiseta amarela não é uniforme de fascista e sim o manto sagrado da farra. Falando em lembrar, não há como não pensar o futebol como metáfora para a vida pelo menos em três pontos: o relógio não para, sozinhos não dá pra jogar e é muito difícil acertar. Tal como nós. Diria que os hermanos ainda teriam algo para acrescentar: que o jogo se trata de ser puro apaixonamento e esse é o segredo. Afinal de que serve o tempo se não for para juntos tentarmos acertar o gol da vida e marcarmos pontos para o amor? Mereceram ganhar, pois levantaram o coração antes mesmo da taça.
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