Por conta do tempo na capital, cuja surpresa ao sair de casa deixou de ser um inesperado tormento graças à previsão do pessoal do Instituto de Meteorologia, alguém ouviu uma enxurrada de comentários num bar – bar lotado, quase transbordando de gente, posto que, subitamente, a garoazinha tinha se transformado num tremendo pé d´água, ilhando toda a turma. Alguns comentários por conta de desabafos:
– É… De fato. E, com todo respeito, São Pedro deve andar meio lelé da cuca. Quando não é frio é chuva, quando não é chuva é frio. Ou as duas coisas de uma só vez.
– E não é de hoje, anda um tanto quanto irado, exaltadamente colérico, enfurecido…
– Dias de chuva fazem bem para a terra, para a alma e para o dono do bar.
Sobrou para quem estava acompanhado apenas do copo e da garrafa de cerveja, numa mesa próxima, uma leva de comentários recheados de coisas que sumiram do mapa – e faz tempo:
– Você tem lido a revista Manchete? Não encontrei mais na banquinha perto de casa, nem ela e nem a revista O Cruzeiro…
– A Manchete circulou de 1952 a 2007. O Cruzeiro, de 10 de novembro de 1928 a julho de 1975.
– Nossa, eu comprava as revistas na banquinha da esquina, mais o dropes Dulcora…
– Elas também sumiram, menos o dropes.
– E o jogo do bicho, não vai me dizer que também acabou…
– Não, continua – e mais firme do que nunca. De todos os jogos de azar no Brasil o jogo do bicho é o mais mal visto. Foi criado em 1892, por um nobre carioca, como forma de arrecadar dinheiro em seu zoológico privado. Desde a década de 30, no entanto, passou a ser ligado ao crime organizado no Rio de Janeiro, e sua proibição em 1941 consolidou o status de atividade criminosa. Ainda hoje os bicheiros do Rio movimentam milhões de Reais todos os meses com dinheiro ilegal. E a cidade é toda dividida entre esses “Reis do Crime”.
– E a Loteria Esportiva?
– Também não, só mudou de nome, para Loteca, uma modalidade de loteria mantida pela Caixa Econômica com o objetivo de prognosticar resultados de partidas de futebol.
Vale recorrer a Sartre, Jean-Paul Sartre, ou Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905 -19800):
– A vida é o pânico num teatro sem chamas.
– Se você está sozinho quando está sozinho, você está em má companhia.