E ainda dá pra ouvir a mesma Voz de 87 anos   

1935: surgia no país o 1º programa de rádio com abrangência nacional - 3 anos depois, receberia o nome Hora do Brasil, virando A Voz do Brasil em 1971

Na semana passada, por conta de uma breve conversa de boteco, na mesa ao lado, há quem tenha contido o espanto, até porque o assunto remetia a algo não de ontem ou anteontem, mas de trasanteontem.  

– Consta que o desgoverno federal planeja privatizar a Voz do Brasil.  

– Ué, você  brincando… Ainda existe esse programa?  

– Sim, existe sim. Duro mesmo era nos velhos tempos, quando você, em casa, queria ouvir música, apenas música, uma atrás da outra e, em Curitiba, recorria à Rádio Ouro Verde. E, tranquilo, sem celular, internet e muito menos facebook, o tal de Face para os mais íntimos, só lamentava o soar dos acordes de O Guarani, de Carlos Gomes. Era a abertura sonora do programa a Voz do Brasil. E, breve e solene, o locutor também entraria para a história:  

– Em Brasília, 19 horas.  

Com a estreia de Luiz Jatobá  

O objetivo, segundo o governo: levar informação jornalística diária dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a todos os cantos do país. A Voz começou a ir para o ar no dia 22 de julho de 1935, no governo de Getúlio Vargas. Sua primeira edição teve como locutor Luiz Jatobá, que atuava no Rio de Janeiro. Ele mesmo, Luís Jatobá (Alagoas/Maceió 1915-1982). Além da narração de parte do noticioso radiofônico oficial da, então, Hora do Brasil, Jatobá trabalharia no rádio brasileiro por 45 anos – na época em que os conteúdos veiculados por esse meio de comunicação eram os mais consumidos pelo Brasil afora – e todo mundo, ou quase todo mundo, pra se achar bem informado, ficava ligadão na voz dos (então) donos do poder…  

Tempos do Getúlio  

Em 1935 surgiu A Hora do Brasil, que ficaria mais conhecida, depois, como A Voz do Brasil. O programa foi criado em 1938, sob a ditadura de Getúlio Vargas, com o nome de Programa Nacional. Mas sobrevive até hoje por ser (ou ter sido) conveniente como propaganda governamental e, também, de deputados e senadores – de forma gratuita.  

O programa, criado por Armando Campos, visava dar popularidade a Getúlio Vargas, coisa de amigo para amigo. Foi chamado Programa Nacional, mas, de 1938 até os anos 70, passou a ser A Hora do Brasil. E uma portaria do Ministério das Comunicações tornou flexível ou dispensável o horário de retransmissão do programa. E hoje, é claro, está ao vivo também pela internet.  

PS: Durante o período do golpe civil-militar de 1964, o programa destacava grandes obras e o milagre econômico, reforçando o marketing do regime, plenamente endossado pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista, como bem definiu o (saudoso) jornalista Paulo Henrique Amorim. 

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