Lula não pode indicar um agressor de mulher para ministério

Os cinco primeiros ministros de Lula são homens e brancos. Mas o pior está por vir: dizem que Pedro Paulo será ministro do Turismo

Quando tomou posse, sete anos atrás, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau nomeou o mesmo número de mulheres e de homens para o seu ministério. Numa coletiva, algum repórter perguntou por quê. A resposta dele foi simples e genial: “Por que é 2015”.

É evidente: em pleno século 21, seria ridículo não ter o cuidado de garantir um mínimo de igualdade para as mulheres, ainda mais num governo que se quer progressista. E não só isso: o certo seria indicar para o primeiro escalão pessoas que representem a diversidade étnica e cultural do país.

Aqui mesmo na América do Sul um exemplo recente chamou atenção. Gabriel Boric, no Chile, nomeou 14 mulheres e 10 homens para o ministério. O mínimo que se esperaria de Lula, depois de ter vencido a eleição com um discurso em favor da democracia e da pluralidade, era algo assim. Mas não.

A primeira leva de ministros anunciados era composta por cinco homens, majoritariamente brancos, velhos e da elite. Como sempre. Não se sabe se isso já estava previsto, mas como pegou mal, agora virá uma fornada de mulheres, como Simone Tebet, Margareth Menezes (pelo menos uma negra!) e Izolda Cela. Ufa!

Mas junto com esses anúncios, o banho de água fria. O que se diz, e parece que deve se confirmar, é que o Ministério do Turismo será entregue nas mãos do deputado federal carioca Pedro Paulo. Lembra dele? Pois então…

Secretário no Rio, ele ficou famoso nacionalmente por um escândalo de violência contra a mulher. Na época, em 2015 (o mesmo ano da posse de Trudeau!), a esposa foi a público e disse que tinha apanhado de Pedro Paulo. Ele admitiu, mas disse que foi só uma vez (como se isso resolvesse).

Depois, descobriram uma segunda surra. Abriu-se inquérito. O secretário, que depois seria candidato a prefeito, negou, mas os indícios eram fortes. Até que, de repente, a história deu um cavalo de pau. A mulher foi à imprensa e disse que o marido havia “apenas” reagido a uma agressão dela. Surgiram laudos mostrando que ele, supostamente, teria só se defendido.

Apesar do arquivamento, o caso nunca foi exatamente elucidado – pelo contrário, segue havendo a confissão de que ele bateu na mulher. E é esse tipo que agora, dizem, vai ser ministro.

O motivo para a nomeação? O PSD decidiu. E como o PSD tem direito a duas vagas, o nome teria sido acatado. O que faz pensar que, se Gilberto Kassab resolver indicar, teremos o goleiro Bruno no ministério de Lula.

(Além de tudo, Pedro Paulo não tem nada a ver com um governo petista. Votou pelo impeachment de Dilma, foi a favor do teto de gastos e da reforma trabalhista e votou contra a investigação de Michel Temer. O que esse cara vai fazer no governo?)

Seria lindo ver um ministério diverso, igualitário, que afirmasse o valor da mulher, dos negros, dos nordestinos, dos deficientes. Mas tudo indica que não vai ser assim. Por quê? Porque mesmo sem Bolsonaro, o Brasil segue longe de chegar em 2015, quanto mais em 2022.

Resposta do deputado

Depois da publicação desse texto, a assessoria do deputado Pedro Paulo enviou uma nota sobre o caso, afirmando que ele foi inocentado. Veja a íntegra da nota:

Lamentavelmente, para alguns desinformados e mal intencionados que tentam covarde e até criminosamente me caluniar, ainda tenho que lembrar e alertar aquilo já exaustivamente divulgado, ou seja, a VERDADE: que fui INOCENTADO, após dura investigação, sem uma vírgula de dúvida ou decisão contrária em todas as instâncias (MP, PF, PGR) e, por último, pela mais alta corte de Justiça desse País, o Supremo Tribunal Federal. Todos os documentos, laudos e decisões proferidas estão disponíveis para checagem no site averdadesobrepedropaulo.com.br .

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