Escolas cívico-militares têm apoio de 79% no Paraná. Mas nem por isso deveriam existir

Ratinho comemora aprovação de seu programa, mas é preciso julgar as escolas pelo modelo pedagógico, e não pela popularidade

O governador Ratinho Jr. (PSD) está todo faceiro com uma pesquisa de opinião pública. O levantamento, feito pelo IRG, diz que 79% dos paranaenses acham joinha que o Paraná tenha decidido manter (e na verdade ampliar) o programa de escolas cívico-militares mesmo depois de Lula ter encerrado o programa nacional.

Pensando em termos eleitorais é uma excelente notícia para Ratinho, de fato. Mostra que o governo dele está nadando de braçada no estado – coisa que a eleição de 2022 já mostrou com folga, aliás. E embora o país tenha decidido tirar a direitona extrema do poder, a gente bem sabe como a disputa foi apertada. Então Ratinho continua acreditando que pode ocupar esse espaço na próxima eleição presidencial.

Outra coisa que é importante dizer: o IRG é um dos institutos mais sérios do estado. Então, se eles dizem que tem 79% felizes com essa decisão do governo, eu tendo a acreditar que é por aí mesmo. Até por que né? Estamos falando do Paraná… Mas enfim.

O ponto é que a escolha popular nesse caso não deveria ser o fiel da balança. Educação é uma coisa séria e que não deve ser decidida como um paredão do Big Brother. Claro: o eleitor já se pronunciou sobre Ratinho e o governo tem legitimidade pra ir por esse caminho. Mas seria bom tomar essa decisão pensando em critérios pedagógicos, e não em critérios demagógicos.

Pensa num resultado absurdo de uma pesquisa sobre educação (na minha cabeça, esse já é bem problemático, mas vamos radicalizar). Se 80% quiserem a volta da palmatória, fica como? Implantamos? E se a maioria achar que não devemos mais perder tempo com Humanidades, é esse o caminho que a gente deve seguir? Acho que as respostas são autoevidentes (se bem que o tempo me levou a descobrir que nada é tão óbvio para as pessoas quanto a gente gostaria…)

O secretário Roni Miranda (e Deus sabe que ele é um avanço em relação a Renato Feder) diz que o Paraná não se guia por ideologias na educação, mas sim por resultados. Bom, primeiro a gente fica pensando se o secretário frequentou aquela aulinha de Filosofia básica que explica que não existe neutralidade ideológica. Enchem a educação de milicos e hierarquia e isso não é ideologia? Vá entender.

Mas além disso: estão guiando a educação pensando em qual resultado? Porque doutrinar as criancinhas para que elas respeitem a hierarquia e esqueçam as Ciências Sociais, essa bobagem, é um resultado também, não é? Estamos pensando no Ideb, é isso? Ou na produção de bons trabalhadores para o mercado?

Eu gostaria de acreditar que o resultado de uma boa educação pública é a criação de uma geração que, além de ter oportunidades na vida, tem condições de refletir sobre o mundo em que vive, de pensar por conta própria e contestar o que for necessário, uma geração capaz de apreciar a beleza e de se conhecer profundamente.

Alguém aí acha que a militarização é o caminho para isso?

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