Áudio vazado de presidente da FAS escancara política higienista da gestão Greca

Reportagem do Plural mostra que Maria Alice Erthal pede remoção de moradores de rua e uso da Guarda Municipal para causar medo

O áudio da presidente da Fundação de Ação Social (FAS) descoberto pela repórter Angieli Maros e publicado no Plural nesta quarta-feira (22) é mais um episódio revelador da verdadeira visão que a atual gestão da Prefeitura de Curitiba tem sobre a população de rua. Não que Rafael Greca (PSD) tenha feito muita questão de esconder o que pensa sobre pobres e sobre sua presença na cidade dos sonhos que tenta vender. Mas de vez em quando a coisa se torna mais explícita.

Para quem não viu: Maria Alice Erthal, atual presidente da FAS, é a responsável por atender a população de rua da cidade. No entanto, em um áudio vazado, enviado num grupo de WhatsApp, ela aparece dando declarações absolutamente preconceituosas sobre moradores de rua. Pior, exige que funcionários da FAS – uma instituição que em princípio deveria agir para atender as necessidades dos mais pobres – chamem a Guarda Municipal para intimidar os pobres e forçá-los a sair de zonas centrais da cidade.

O áudio deixa bem claro que se trata de ordens da presidente, que parece irritada com aquilo que ela, aparentemente, considera uma desfaçatez do povo de rua. Teriam, diz ela, inclusive colocado uma cortininha numa rua central para não serem incomodados. “Tem que tirar aquele povo dali”, diz Maria Alice. “Está um absurdo aquilo ali. Não precisa tirar na marra, mas podem ir com a Guarda Municipal para eles começarem a sentir um pouquinho de medo.”

Antes mesmo de assumir, ainda na campanha, o atual prefeito disse ter vomitado ao sentir o cheiro de um pobre. Na primeira semana de seu mandato, em 2019, Greca fechou um guarda-volumes na Praça Osório, para evitar que as pessoas continuassem com sua “incômoda” presença no Centro. Depois, fechou um abrigo no Centro e realocou para o Sítio Cercado. Sempre a política foi a do higienismo, a de esconder os pobres, ao invés de atendê-los.

A política atual inclui roubar pertences dos moradores de rua. Sem os guarda-volumes, eles deixam pertences no único espaço que têm: a rua. Mas a Prefeitura, para tirar o pouco que lhes resta, passa recolhendo colchões, cobertores e tudo que possa facilitar a vida das pessoas. Quando as pessoas, exercendo o seu direito, insistem que a rua também lhes pertence, ficou claro agora qual é a resposta da Prefeitura: enviar a Guarda armada para meter medo.

Numa cidade que realmente se preocupasse com os pobres, Maria Alice Erthal teria de ser demitida imediatamente, após o vazamento de sua conversa constrangedora e que mostra que ela usa o cargo para prejudicar as exatas pessoas pelas quais deveria trabalhar. Seria ingênuo esperar que Greca a demita. Mas nem por isso é menos necessário cobrar que a Prefeitura seja responsabilizada pela política de exclusão que vem mantendo.

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