Uma das tônicas da sessão especial da Câmara de Curitiba nesta quinta (4), que colocou de novo em votação a perda de mandato de Renato Freitas (PT), foi o discurso de vereadores negando que a cassação de um dos poucos negros do Legislativo tenha a ver com racismo. Renato é um dos três integrantes negros da Câmara, que tem um total de 38 vereadores.
Eder Borges (PP), provavelmente o vereador mais à direita da Câmara, afirmou que inclusive “gosta” do estilo de Renato Freitas, e que é a favor de uma Câmara plural para que haja debate de ideias. Jurando não estar votando orientado por preconceitos, afirmou que o petista cometeu um ato intolerável ao entrar na Igreja do Rosário durante uma manifestação antirracista. Segundo ele, o voto pela cassação tinha a ver com a “cristofobia” de Renato. Eder foi mais longe e disse que irá fazer representações contra qualquer vereador que “acuse Curitiba de racismo”.
Já Denian Couto (Podemos) disse que o que estava em julgamento não era “a cor da pele” do vereador. Segundo ele, o PT, ao não conseguir ocultar aquilo que ele classificou como flagrante quebra de decoro de Renato, tenta criar uma “narrativa” de preconceito racial por trás da cassação. “Não mordo essa isca e não me intimido”, disse ele, um dos 35 brancos da Câmara.
O preconceito também fez parte do discurso de Carol Dartora (PT), primeira vereadora negra eleita na história de Curitiba. Segundo ela, é evidente o racismo estrutural que existe na cidade, impedindo a eleição de mais negros e dificultando a atuação dos poucos vereadores negros eleitos. A vereadora também disse que não aceita a tese de que quem identifica racismo em Curitiba esteja sendo “contra” a cidade. “Sou nascida e criada aqui, nasci no Santa Quitéria, falo leite quente”, disse ela, afirmando que o fato de ser negra “retinta” não faz dela menos curitibana.