Siamese: voz, arte, jornada e pautas sociais de uma multiartista em Curitiba

Siamese é uma multiartista, trans não-binária, cantora, compositora, coreógrafa e produtora cênica

Nos próximos parágrafos você pode acompanhar a trajetória de lançamentos da artista e, logo abaixo, uma entrevista completa sobre sua arte, sua vida pessoal e seus projetos futuros.
Siamese atua na cena musical e de produção cultural desde 2017, ano em que lançou seu primeiro EP autoral chamado “Som do Grave” de forma independente, com a colaboração de produtores e artistas do Paraná. O EP contém cinco faixas que variam do rap ao eletrônico.
Em julho de 2019, a artista lançou o EP “Overdose”, com participações de Boombeat, Danna Lisboa e do trio Tuyo.

No ano de 2021, foi a vez do single “Vibração” em parceria com os DJs Azure G e Sydney Sousa. No mesmo ano lançava o projeto “Overdose Sessions”, uma nova versão do EP gravado em 2019, projeto realizado com recursos do programa de apoio e incentivo à cultura, Fundação Cultural de Curitiba da prefeitura de Curitiba e do Ministério do Turismo.

O single “Feeling Good” foi uma parceria com o DJ Italiano Luca Lazza. Ainda em 2021, apresentou o single “Verificada”, uma mistura de trap e pop, celebrando a verificação nas redes sociais.

Em 2022, chega a era do single “FOGOSA 2.2” com produção da DJ Clementaum, música que também é o novo hino do Bloco Fogosa.

O Bloco Fogosa celebra a diversidade, as pessoas LGBTQIA+, todas diferenças e semelhanças de uma juventude que existe e resiste em Curitiba; trazendo o hip hop como outra proposta possível e conjunta ao samba no carnaval que levanta o público; recebe inscrições de pessoas de todas as idades e já recebeu o prêmio Aliad@s do Grupo Dignidade pela representação e contribuição dos direitos humanos e LGBTQIA+.

O single mais recente da Siamese é o “Telas”, com produção musical de Machado (TUYO), onde a artista nos apresenta uma abordagem mais romântica dentro da sua obra.

Acompanhe a entrevista na íntegra.

Fale da jornada do início da sua arte musical, onde começou, quais eram (e são) suas intenções, vontades e objetivos.

Eu sempre fui uma pessoa ligada a música, dança e arte em geral, desde criança. Me lembro de aprender as primeiras notas melódicas no teclado sozinha. Comecei a cantar na adolescência com a minha mãe na igreja em missas, casamentos e eventos. Mas foi dentro da universidade que vi a possibilidade de me inserir no cenário artístico-cultural de forma profissional.

Meu objetivo sempre foi comunicar inquietações e sentimentos que atravessam meu corpo, falar sobre a realidade do meu cotidiano e de certa forma me conectar com quem se identifica com meu pensamento e minha arte. Quando criança eu não cresci com figuras parecidas com a minha em lugar de destaque ou protagonismo, estar no palco é onde me sinto completa, fazendo o que nasci para fazer e ocupar esse lugar é trazer novas possibilidades para as futuras gerações verem que podemos e temos o direito de estar onde quisermos.

Conte um pouco da sua história. De onde é sua família, quem te apoiou, quais foram suas dificuldades.

Meus pais são do interior do Paraná, da cidade de Andirá, e vivem lá até hoje. Demorei para me abrir com eles sobre minha sexualidade e identidade de gênero, devido minha criação na igreja católica, tinha medo deles não entenderem quem sou. Comecei a falar mais sobre mim quando já havia saído de casa e já tinha minha independência financeira. Hoje temos uma relação bem sincera e eles acompanham e apoiam minhas decisões.

As maiores dificuldades foram as necessidades básicas de sobrevivência e conciliar, trabalho, estudo e criação artística. Me mudei para Curitiba em 2011, sem nenhum suporte financeiro e tive que me estabelecer na cidade; foi um período intenso e importante na descoberta de quem eu sou.

Em 2014 entrei na UFPR e foi onde conheci a Willian Klimpel, minha namorada que trabalha comigo na Direção criativa e em projetos culturais. Juntas começamos a trabalhar na produção do meu primeiro EP. Foi um processo bem intenso para a gente entender todo o mecanismo da indústria fonográfica, de como se inserir na cena e se aprimorar a cada projeto.

Aqui, caso você se sinta à vontade e ache necessário para essa matéria, fale a respeito das dificuldades de uma artista em Curitiba em relação aos preconceitos raciais, LGBTQIA+fobia, violências, etc.

Ser uma pessoa trans e preta com certeza influencia na forma de como a sociedade recebe meu trabalho. Não podemos esquecer que vivemos num país racista e cheio de preconceitos e aqui em Curitiba não é diferente, mas foi aqui que conheci pessoas que incentivaram a me libertar de padrões reproduzidos pela heteronormatividade. Nasci no interior do Paraná, numa cidade muito pequena, e por mais “conservadora” que possa ser Curitiba, foi aqui que vi a possibilidade de tornar minha arte possível.

Hoje comando e produzo o Bloco Fogosa, primeiro bloco de carnaval com a temática Queer e sonoridade pop, Hip Hop e eletrônico a desfilar no carnaval tradicional de Curitiba. Desde o meu primeiro lançamento busco trabalhar e dar o protagonismo a pessoas pretas, mulheres e LGBTQIA+, produzir com quem a gente se identifica e acredita, torna o ambiente mais acolhedor. Acredito que quando temos o poder de escolha devemos fazer parte de mudanças necessárias pra uma sociedade mais plural e diversa.

Como surgiu a personalidade Siamese? O que ela representa, quais são as referências artísticas, as angústias ou as necessidades que ela tem?

Sou Siamese 24hrs por dia, a persona artística surge na minha necessidade de externar questões internas provocadas pela sociedade e de alguma forma conectar com quem se identifica com a minha existência. Gosto muito da cultura Ballroom, Hip Hop e Pop em geral e gosto de trazer isso em minhas produções.

Tenho alguns artistas que me inspiram e de certa forma são minhas referências como: Liniker, Linn da Quebrada, Beyonce, Rihanna, Fka Twigs, Frank Ocean, entre outros.

Fale sobre sua música, pesquisas, insights, intenções, conceito, contextualização, o que você acha que desperta no público. Fale sobre as letras das suas músicas. O que sua arte/performance diz ou traz ou faz refletir sobre Curitiba?

Vejo na arte uma forma de transformar realidades. Acredito que desperto um questionamento sobre a dinâmica social em que vivemos. Eu busco trazer questões que atravessam minha vivência sendo preta e trans e esses assuntos não são pautados com a atenção devida (pelas mídias). Há uma imensa diversidade de artistas LGBTQIA+ no Paraná e no Brasil, só que poucas conseguem ter visibilidade, reconhecimento e viver do seu trabalho. Falta oportunidade de estarmos presentes nas mídias em geral, de forma naturalizada e para além de meses ou datas específicas. Estamos presentes 24 horas por dia o ano todo na sociedade, só que nossos trabalhos não são pautados ou priorizados.

Basta olharmos para os casting das gravadoras, quantas de nós estão por lá? Quantas de nós são capas de revista? Quantas de nós estão nas trilhas sonoras de filmes, novelas e seriados? Quantas de nós estão tendo sua música tocada nas rádios e grandes playlists? É preciso mudar a engrenagem para transformação do CIStema. Ter ações efetivas no cotidiano para que juntes construímos uma sociedade mais plural e livre de preconceitos.

Quais retornos do público você já teve e, se deve ou se passa uma mensagem, qual você acha que é?

Recebo em minhas redes sociais depoimentos e mensagens de carinho sobre como minha arte transformou a vida de muitas pessoas e isso é que o que mais me motiva a seguir meus sonhos. Meu maior propósito é, através da minha arte, transmitir uma mensagem de autoaceitação, respeito e diversidade, e que com isso as pessoas possam ter um novo olhar uns sobre os outros, sem preconceitos, que possam falar sobre experiências de formas mais abertas e sinceras. Eu não tive a oportunidade de me entender enquanto trans na minha infância e adolescência, o que me trouxe vários traumas e preconceitos durante meu desenvolvimento humano e social, quero que as próximas gerações tenham a liberdade de se descobrirem sem se sentirem oprimidas, livre para serem e fazerem o que quiser.

Quais os seus planos atuais?

Meu objetivo hoje é cada vez mais ampliar meu alcance e conseguir ter uma maior estabilidade para desenvolver meus processos e concentrar na construção do meu primeiro álbum. Tenho trabalhado em alguns lançamentos ainda para esse ano que vão mostrar uma nova possibilidade sonora, quero cada vez mais me desafiar artisticamente e poder experimentar minha voz em novos ritmos e parcerias.

A sua música/arte é uma pesquisa contínua?

Sinto que estou em constante descoberta de como a música/arte me atravessa. Viver é uma experiência e de certa forma coloco minhas vivências em versos, poemas e melodias; vejo na arte uma forma de me comunicar com o mundo.

Quais os seus outros projetos pessoais do momento? Fale sobre álbuns, eps, clipes, datas, locais, projetos, produções, parcerias.

Estou trabalhando no lançamento da música HIPNOTIZAR, que é um R&B e nela eu mostro um lado mais sensual e sedutor; é mais uma faceta que me sinto pronta em compartilhar com o mundo. A faixa deve chegar nas plataformas agora em meados Agosto e o videoclipe no fim do mês. Ainda esse ano sairá algumas parcerias com artistas do Brasil e estou trabalhando junto de minha equipe algumas novidades que logo vou compartilhar com vocês.

Fale sobre sua equipe, balé, apoiadoras, produção…

A Will é a minha maior apoiadora, ela acreditou em mim antes mesmo de eu mesma acreditar no meu potencial. Tê-la comigo é meu porto seguro e foi fundamental no desenvolvimento da minha carreira. Hoje tenho 3 bailarines: a Majo Farias, Lucas Edu e o Silvester Neto que está comigo desde do clipe “Som do Grave”. A Amanda do salão CWBRAIDS também é uma apoiadora desde o meu primeiro clipe. Minha DJ é a Clementaum e está comigo desde 2018.

Esse ano assinei com a UMA PRODUTORA que é responsável pelo meu booking e me auxilia no gerenciamento de carreira. Desde o início da minha trajetória tive o apoio de muitas pessoas incríveis para a construção do meu trabalho e fica difícil citar todes, sou grata a cada um que somou em minha vida.

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Quero agradecer ao Egon e a vocês do Plural pelo espaço e suporte. Fiquei feliz em poder mostrar um pouco da minha arte e trocar essa ideia com vocês. Obrigade pelo carinho e me acompanhem nas redes sociais e plataformas de streaming.

Contatos:
[email protected]
(11) 97256-0101

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