Os Parques das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos – Parte II

Chegou a hora de conhecer, Grand Teton e Custer e Yellowstone, o parque que deu origem a todos os parques

Primeiro parque nacional do mundo, o Yellowstone, o parque do Zé Colmeia (quem lembra?), não é algo muito simples de ser visitado. A área é gigantesca, há vários portões de entrada e muitas atrações imperdíveis – todas elas distantes uma das outras. Com meses de antecedência, eu e meu primo Thiago conseguimos fazer a reserva para um dos campings que ficam dentro do parque, o que ajudaria a encurtar algumas distâncias.

Uma das razões do sucesso do parque, em princípio, seria a vida selvagem. Mas nisto, não tivemos sorte. Não vimos nenhum urso. Em verdade, não é muito fácil encontrar os ursos no verão. Exceto em alguns lugares do Alasca, onde eles são relativamente abundantes, urso raramente dá as caras. Moradores locais nos disseram que a melhor época para avistá-los é durante a primavera, quando eles saem da hibernação. Como estão famintos, costumam ser mais ativos que o habitual. Em Yellowstone, chegamos a ver alguns bisões, mas também não foram muitos. Havia um local do parque que seria o mais propício para observar a vida selvagem – mas era muito longe e escolhemos ficar com o restante.

As incríveis cores dos lagos de Yellowstone. Fotos: André Tezza

O que seria o restante? Há um cânion e uma grande cachoeira – bonitos, mas não extraordinários. E, sobretudo, gêiseres e lagos termais. Isto sim é realmente impressionante. Estamos em outro planeta. Não há nada parecido em nenhum outro canto da terra.

No primeiro dia de visita, a saída do camping já apresentava um espetáculo à parte – o parque estava branquinho, por conta do orvalho congelado, e ao mesmo tempo fumegante. Era a fumaça das atividades termais. Em alguns pontos, uma chaminé imensa aparecia do nada, como um cogumelo atômico. Havia uma névoa de vapor até mesmo nos rios – é tão surpreendente que não parece verdadeiro.

Dos muito gêiseres do parque, alguns têm comportamento previsível, outros não. Para os previsíveis, existe um boletim meteorológico semelhante ao do tempo – no centro de visitantes, um painel mostra o horário provável em que haverá a explosão. O mais famoso dos gêiseres previsíveis, o Old Faithful, tem uma arquibancada ao redor e uma multidão fica esperando a explosão todos os dias.

Os lagos têm cores surreais: são microrganismos que sobrevivem a temperaturas altíssimas. Por causa deles, pesquisas científicas acontecem ainda hoje no parque. A existência de microrganismos resistentes à temperatura aumenta muito as chances de vida em outros planetas – por isso mesmo, há um interesse de longa data da Nasa em Yellowstone.

Um aspecto que as fotos não mostram: normalmente onde há termas, há enxofre. Sim, o Yellowstone fede e fede muito. Depois de um dia, você já não se dá conta, porque o nariz se adaptou com o cheiro de fossa. Quando chegamos, nós não sabíamos que o cheiro vinha do parque e eu achei que o Paçoca estava com algum problema no sistema de esgoto. Já estava imaginando a grana que teria de pagar para o conserto. Quando entendemos que o cheiro vinha do parque, foi até um alívio.

Tivemos muita sorte com o tempo. As atrações do Yellowstone só são bonitas e visíveis em dias de sol. Estávamos já nos últimos dias em que o camping estaria aberto – logo depois as nevascas seriam uma constante.

Parque Nacional Grand Teton. Foto: André Tezza

Do Yellowstone, nós fomos para o Parque Nacional Grand Teton, que fica ao lado. Este é um parque com um lago imenso, cortado por uma cadeia de montanhas nevadas. O frio estava apertando e em todas as noites nós pegamos temperaturas negativas. O Grand Teton nós fizemos sobretudo de carro, não havia muitas trilhas para percorrer. É um parque bonito, mas depois do Glacier e do Yellowstone a concorrência seria difícil.

A saída do Teton foi ao mesmo tempo lindíssima e aterrorizante. O plano era ir para o parque Custer, na Dakota do Sul e, para isso, atravessaríamos o Wyoming. Pela primeira vez, pegamos neve na estrada. A neve em pequena quantidade é bem tranquila para dirigir, mas a estrada subia e em alguns trechos havia gelo – ali o bicho pegou. Precisei diminuir muito a velocidade do Paçoca, o que no fundo não foi ruim, porque pudemos apreciar uma beleza que até então não tinha aparecido: vales todos branquinhos, pinheiros com galhos nevados, a natureza intocada e brutal. Ainda no Wyoming, próximos de Casper, onde dormiríamos, veio o momento mais complicado da direção: vento, neve e gelo, tudo ao mesmo tempo. Por conta da tensão, cheguei em Casper exausto.

Visitantes descansam depois de uma das trilhas do parque Custer. Foto: André Tezza

Dormimos no Walmart de Casper – foi a primeira noite em um Walmart do Thiago e o primeiro Walmart a gente nunca esquece. Como costuma ser a norma, em Casper também havia outros motorhomes no estacionamento e trocamos ideias com alguns viajantes. No dia seguinte, para descansar, fizemos uma quilometragem baixa e dormimos em uma área pública bem bonita, o complexo de recreação Glenrock South. Os Estados Unidos têm vários lugares de camping gratuitos, super bem cuidados e muitos deles em lugares que valem a pena conhecer.

Entramos na Dakota do Sul e paramos na simpática Custer, que é uma cidade ao melhor estilo velho oeste – passamos por várias dessas ao longo da viagem. Custer é a base para conhecer mais um parque, este estadual, o Custer State Park. Eu já tinha feito um parque estadual com a Fran, o Redrocks, no Arizona, mas o Custer está em um outro nível. A infraestrutura é de cair o queixo. Ficamos no camping do parque e tudo estava limpíssimo, novo e funcional. No centro de visitantes, há um cinema gratuito que passa continuamente um documentário sobre o parque. Nós vimos um bom pedaço – a produção era hollywoodiana, com narração do Kevin Costner.

No Custer, pudemos fazer pela primeira vez uma trilha na neve. Foto: André Tezza

Nós fizemos uma porção de trilhas, todas muito lindas, e novamente fiquei feliz que consegui acompanhar o ritmo do Thiago. Aqui o cenário era diferente, com rochedos pronunciados e torres de pedras que emergem das florestas. Uma das trilhas estava nevada e foi também uma experiência nova.

Finalizando o Custer, percorremos uma estrada conhecida para ver vida selvagem e encontramos dezenas de Bisões (uma das grandes atrações do parque) e um bichinho muito simpático, o Prairie Dog (cão-da-pradaria), que parece um esquilo maior. Eles fazem buracos no chão e, quando passamos de carro, todos se levantam e ficam em pé nos observando – divertido.

O local que mais vimos bisões na viagem foi no Custer. Foto: André Tezza
O simpático Cão da Pradaria. Foto: André Tezza

Estávamos nos despedindo da natureza – nos próximos dias visitaríamos a cidade universitária de Madison e Chicago.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima