Um espaço de acolhimento para mães

Ao longo dos cinco anos de atividade, o Rock Camp Curitiba coleciona histórias envolvendo voluntariado e campistas, como chegaram até aqui e qual o impacto do camp em suas vidas. São histórias cheias de alegria e inspiração.

A autônoma Yohrani Ferreira (27) estava ansiosa para participar do Rock Camp 2020. Vivendo o último mês de gravidez, sabia que a chegada da pequena Morgana iria alterar a rotina e limitar algumas possibilidades nos próximos meses. Ela só chegou ao treinamento de voluntariado, que ocorre nos dois dias que antecedem o camp. Quando foi para casa no dia 26 de janeiro de 2020, percebeu que os planos de Morgana eram diferentes dos seus. Ela nasceu no primeiro dia de camp e a mamãe Yohrani se tornou a primeira baixa do voluntariado naquele ano.

Com um recém-nascido em casa, o isolamento de Yohrani foi bastante rigoroso, o que também ajudou a fortalecer os laços entre mãe e filha nos primeiros meses de existência de Morgana. No dia 27 de novembro de 2020, a chegada de Beatriz tirou Yohrani do grupo de “mães de primeira viagem”. Ainda vivendo as consequências da pandemia, a vida da família se limitava à casa.

Presente no movimentado grupo que reúne voluntariado de todos os anos do camp, a autônoma decidiu se voluntariar novamente quando foi anunciado o retorno das atividades presenciais do Rock Camp Curitiba. Fez a inscrição, foi selecionada e se deu conta de não tinha ainda estruturado uma rotina sem a sua presença diária para as meninas.

Como a procura por uma babá se mostrou infrutífera, entendeu que Morgana e Beatriz também estariam presentes no Rock Camp Curitiba. Comunicou à Marlisi Rauth, coordenadora do RCC e responsável pela seleção de pessoas voluntárias, que precisaria do “Espaço Kids”, que conta com uma equipe para auxiliar mães do voluntariado que precisam trazer seus filhos pequenos.

Marlisi – ou Lisi, como é chamada no camp – fala que esse é um tema muito importante para o RCC:

“Nós não fazemos nenhuma diferenciação entre mães e não mães quando selecionamos o voluntariado. Entendemos que é importante adequar o tamanho da equipe de apoio de acordo com a quantidade de crianças, assim como deve acontecer em qualquer situação na sociedade”, comenta.

A presença de crianças menores exige estrutura adequada e muita vitalidade e criatividade por parte das pessoas voluntárias da equipe de apoio. E exige também paciência e confiança por parte de mães. Yohrani conta que após dois anos de isolamento ainda está aprendendo a estar fisicamente longe de Morgana e Beatriz, mas sabe que o ambiente não poderia ser melhor:

“A Morgana sai de perto de mim e tem sempre pelo menos duas pessoas olhando para ela. Assim como eu, elas não saem de casa, não socializam, não têm contato com o mundo. Esse processo de adaptação com pessoas para elas que nasceram na pandemia está sendo feito da forma mais segura possível”, fala emocionada.

Roberta Cibin, coordenadora geral do Rock Camp Curitiba, também se emociona ao falar que acredita que a criação de uma criança não é obrigação apenas de mães e pais, mas dever de toda a comunidade:

“Tem um provérbio nigeriano que fala que ‘É preciso uma vila inteira para criar uma criança’. Aqui no Rock Camp a gente acredita de verdade nisso. A gente quer dar a chance para essas mães que sempre são as que menos tem oportunidade de participar dos espaços coletivos, de estarem aqui no camp com a segurança de saber que seus filhos estão em um espaço de acolhimento, com carinho e atenção”, termina.

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