Por que eu vim?

No treinamento do Rock Camp Curitiba de 2020, o bordão “eu estou aqui pela Carla” – Carla Del Valle, uma das coordenadoras do Camp – foi lançado com sucesso. Afinal, muitas pessoas do voluntariado conheceram o camp por meio da relação com a Carla.

No meu caso isso é verdade bem verdadeira. No primeiro Camp que participei, em 2018, só fui pela Carla mesmo. Não conhecia absolutamente ninguém e era, literalmente, um peixe fora d’água.

Em 2019, obviamente, fui por causa da Carla. Mas também fui pela Ju, pela Jacque, pela Luana, Vane, Beta, Lisi e outras tantas mulheres que conheci no ano anterior.

Em 2020 voltei. Voltei pela Carla, sempre. Mas já havia algo dentro de mim, que dizia respeito somente a mim mesma. Estar com mulheres é algo que me agrega, me agrada, me desafia e, em alguns momentos, me tira totalmente da zona de conforto.

O desafio do Camp vai além do trabalho voluntario, é sobre autoconhecimento, sobre compaixão com você mesma, sobre entendimento da sua individualidade e da sua presença neste mundo. É sobre transformação, que pode estar tanto no físico – alô novas tatuagens – como no nosso espírito, pensamento e quem sabe até sexualidade. Tudo é possível no Camp.

Em 2022 fiquei matutando muito sobre o porquê realmente eu vim. O momento estava confuso, estava exausta, pandemia, família, Mandarina…. Tanta coisa que pensei efetivamente que não era o melhor momento. Não era mesmo. Mas foram tantos anos de Camp, de entender que estar com mulheres tão diferentes de mim pode ser tão transformador e desafiador e que mesmo com todos os desafios é algo que mexe com a nossa – a minha – estrutura.

Este ano eu vim, mas a verdade verdadeira é que vim por mim. Pelas mudanças que só eu posso fazer por mim, pelos aprendizados que só eu posso aprender, pelas falas que só eu posso escutar e assimilar, boas ou ruins. Vim pela criança que sempre quis dançar e cantar, vim pela vontade de estar com mulheres e encontrar pertencimento em algum espaço além da minha bolha tão centralizadora e mesquinha.          

É difícil voltar à vida comum e rotineira depois do Camp, são dias para assimilar informações e possíveis mudanças internas e estruturais. E a cada ano, a gente cresce um pouco, assim como o Camp.

Renata Vidal é jornalista e chef de cozinha. Há 4 anos coordena a cozinha do Rock Camp Curitiba.

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