Subverter a ideia de tempo, uma luta por identidade

Meses atrás deu uma viralizada na internet um tuíte que dizia algo como “eu me visto para adolescentes de 13 me verem na rua e pensarem ‘quero ser assim quando crescer’”. Você deve ter visto, possivelmente se identificado, mas a perspectiva que trago aqui é o inverso: participar do Rock Camp é olhar para campistas e suspirar “era assim que eu queria ter sido”.

Nos últimos anos, a palavra autoconhecimento vem sendo muito utilizada pelas gerações com mais de 30 anos no que parece uma tentativa de revisitar processos pessoais e observar comportamentos com verdadeira atenção. Entender como foi que nos tornamos quem somos parece uma questão importante e atual. É como se, coletivamente, nos déssemos conta de que adquirimos a maior parte de nossas características sem prestar muita atenção nelas.

E não é que já não soubéssemos que a sociedade vai nos impondo um monte de comportamentos. Sacamos isso quando conhecemos teoria feminista, quando a discussão sobre racismo e sexualidade nos impõe e nos atravessa. Mas de certo modo, a sensação do coletivo tem uma parcela não só de conforto, como de distanciamento, uma espécie de “é menos pior não ter feito a lição de casa se ninguém mais fez também”, neste caso, “é OK perder minha subjetividade quando todas nós passamos por isso, né?”.

Quando o mergulho em si se inicia, quando enxergamos as novas gerações construindo suas identidades com muito mais liberdade, a gente vê que não. Que não tem como ignorar o potencial de dor que é olhar para nós mesmas e começar a identificar quais foram as características que eram para ser nossas e simplesmente não puderam acontecer.

Ser engajada em movimentos sociais nos faz entender que muito provavelmente lutamos por mudanças que não vão necessariamente nos contemplar, ainda que tenhamos pressa, a gente se concentra no futuro. Mas a boa notícia é que, para além de todas as outras desconstruções a que vamos nos submetendo, é fundamental entender que o tempo também é um dado cultural a ser subvertido. Olhar para as feridas, curá-las, acreditar que ainda dá tempo e construir, finalmente, a identidade que você escolheu para você.

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