Escolher: uma corrida para quem somos

Com as pontas dos cabelos pintados de rosa, meio tímida, Alycia chega segurando a mão da mãe que diz: “É a primeira vez dela, será que a Sofia, amiguinha que vem também, já chegou?”. Não dá nem tempo de piscar, o sorriso se abre ao avistar a amiga.

Em sequência, uma pequena chega com seu cachorro e ganha toda a audiência. Uma criança confessa a outra “ter um desse é meu maior sonho”. Enquanto isso, sendo fotografada com sua mochilinha de pokebola, ouve-se: “Meu nome é Lorena, mas gosto que me chamem só de Lore”.

Lucas chega só, não é sua primeira vez no Camp, mas aceita a companhia da voluntária para entrar. Dois minutos depois se escuta um afetivo “Lucaaas”, e uma amiga de cabelo colorido vem correndo em sua direção, eles se abraçam.

Já sentadas, com suas camisetas temáticas e enturmadas, duas garotinhas escutam uma terceira contar sobre como seu nome foi escolhido. Próximo a elas, voluntárias e campistas dançam juntas.

Entre chegar, fazer sua foto de crachá e pegar seu kit, encontros, primeiros contatos, gestos curiosos e tímidos, é o primeiro dia de uma semana intensa. Tem a hora do hino do Rock Camp Curitiba, a hora de receber as orientações do dia e então a mais esperada: o momento da escolha.

Foto: CAMI

Campistas a postos e à espera, dez duplas de produtoras e empresárias de banda entram na sala. Elas trazem cartazes coloridos e convidativos que foram feitos no dia anterior para chamar atenção para que campistas queiram fazer parte da futura banda que irão construir.

Do palco, uma das coordenadoras apresenta os cartazes, os descreve em cores, elementos, brincadeiras com palavras, referências a naruto, amor por gatinhos, unicórnio, comunidade lgbtqia+, bruxas, aliens. A cada cartaz, gritos, risos, impulsos de se aproximar. Quem já se conhece sinaliza, como quem diz, “oh, esse combina com você”.

Ao fim da apresentação dos cartazes, é dada a largada: podem escolher em qual banda querem ficar. É a hora do alvoroço, da corrida em direção ao que se deseja.

bell hooks dizia que ser oprimido significa a ausência de escolhas. A cena de crianças e adolescentes caminhando em direção ao que escolheram rende um gostinho de perspectiva, uma sensação de futuro. E é só o primeiro dia.

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