Por que formar uma banda?

Já ouviu falar em Judith, a irmã de William Shakespeare? Embora ela não tenha, de fato, existido, ela foi imaginada por Virginia Woolf em seu ensaio, “Um teto todo teu”. Nele, Virginia constrói Judith como uma pessoa tão talentosa, curiosa e sagaz quanto o irmão. Mas se pergunta: se tivesse existido, ela teria sido o sucesso que ele foi?

Destacando que, pela época, Judith não teria estudado em boas escolas como William e nem poderia se aventurar no mundo como ele fez, é fácil concluir que ela não teria recebido estímulo algum para produzir qualquer tipo de literatura que fosse, quanto mais obras dignas de prestígio.

Anos mais tarde, Gloria Anzaldúa em “Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo”, escreve de maneira afetiva e honesta sobre as suas motivações para escrever: “Escrevo para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal escritas sobre mim, sobre você. Para me tornar mais íntima comigo mesma e consigo. Para me descobrir, preservar-me, construir-me, alcançar autonomia”.

Nesse texto, Gloria nos convida a contrapor a ideia de que a escrita feita por mulheres é algo menor por ser subjetiva enquanto uma criação masculina hetero cis branca se ocupa e se autodenomina competente na missão de produzir obras universais que deixam um legado para humanidade.

Tem uma frase da escritora Octavia E. Butler que me vem sempre à mente. Ela diz: “Comecei a escrever sobre poder porque era algo que eu tinha muito pouco”. Essa colocação me impressiona porque faz lembrar que o movimento de criar nos permite o exercício de ressignificar e quando pertencemos a grupos minoritários, ressignificar é nossa forma de viver.

A produção de mulheres, pessoas negras e pessoas trans se ocupa de deixar registros de quem somos, de que estamos aqui, vivas, vivos, vives. Fazemos parte desse mundo, estamos na história, respeitamos nossas subjetividades.

Então se a pergunta é: “Por que formar uma banda?”, bom, porque compor, cantar, tocar e formar uma banda, nos coloca no mundo: a gente pode, a gente faz!

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