Pode Curitiba ter uma eleição só de mulheres?

A arena de pré-candidatos a prefeitos(as) de Curitiba tem nomes promissores de mulheres. Haverá coragem para tornar a disputa uma eleição entre mulheres?

Enquanto as peças do imenso xadrez político partidário se movem em direção a construção das chapas que disputarão a Prefeitura de Curitiba, um cenário curioso começa a se mostrar discretamente: a existência de mulheres com cacife político suficiente para se colocar no tabuleiro. É uma situação sui generis porque em 330 anos a capital o atual prefeito gosta de chamar de “Smart city” nunca teve uma prefeita mulher.

O mais perto que uma curitibana chegou disso foi quando a petista Mirian Gonçalves se elegeu vice-prefeita na chapa do ex-prefeito Gustavo Fruet. Gonçalves, porém, perdeu o posto para Paulo Salamuni (PV) quando Fruet tentou – e perdeu – a reeleição em 2016.

Este ano duas mulheres já se colocaram claramente na disputa: a deputada federal Carol Dartora (PT) e a deputada estadual Márcia Huçulak (PSD). As duas saíram das eleições de 2022 com desempenho melhor que seus colegas de disputa, mas são convenientemente esquecidas nas sondagens dos institutos de pesquisa.

Huçulak disputa a cabeça de chapa com o vice-prefeito, Eduardo Pimentel, que tem o pedigree, a cara de bom moço e o jeito de piá de prédio, mas não tem a experiência nem os votos dela. Já Dartora tem como concorrentes o deputado estadual Goura (PDT) – dono de um desempenho eleitoral bem mais modesto que o dela – e o também deputado estadual Renato Freitas (PT).

Eleições 2024: mulheres têm desempenho eleitoral melhor, mas são ‘esquecidas’

Esta semana a vereadora do PV, Maria Letícia se lançou pré-candidata. Parlamentar de segundo mandato, a médica legista tem contra ela o fato de estar num partido em pleno processo de desmonte. No entanto, uma chapa Carol Dartora/Maria Letícia teria o potencial de tirar a prefeitura de Curitiba do armário e zerar o bingo das populações mais vulneráveis da cidade: professora, negra, mulher lésbica, servidora pública.

A outra opção do grupo que hoje faz oposição ao prefeito seria uma chapa Dartora/Goura. O deputado estadual Goura (PDT) tem muitas pautas em comum com Maria Letícia, mas é mais um homem branco cis na política local, mesmo que um numa roupagem mais progressista.

Do lado da situação, quem poderia fechar chapa com a ex-secretária de saúde de Curitiba, Márcia Huçulak? Um nome que ainda não se manifestou (e que também está em um partido em pleno processo de extinção), mas que tem o cacife de ter feito uma votação e uma arrecadação de recursos de campanha histórica em 2020 é o da vereadora do Novo, Indiara Barbosa.

Barbosa estava fora dos holofotes por ter se afastado em licença maternidade. Adepta de um discurso liberal na economia e conservador nos costumes, ela atua na Câmara muito próxima da base de Greca, mas com momentos de independência, como na liberação de lotes públicos para grupos privados. Com Huçulak, ela formaria uma dupla curiosa.

De um lado uma funcionária pública de carreira com longa experiência no SUS, do outro uma legítima representante da cultura corporativa contemporânea brasileira. Duas mães em diferentes fases (Huçulak tem um filho já adulto, Barbosa é mãe de duas crianças pequenas).

Aliás, a presença de crianças pequenas no Palácio 29 de Março é outro tabu. Os últimos dois prefeitos – Greca e Fruet – não tiveram filhos. Antes deles, Luciano Ducci (PSB) e Beto Richa (PSDB) tinham filhos já crescidos. Pode parecer irrelevante, mas no passado a experiência do médico Luciano Ducci foi essencial para a construção, no SUS municipal, de programa Mãe Curitibana, reconhecido por reduzir a mortalidade materna. Imagina o que a experiência de uma mãe – ou duas – poderá fazer no setor?

A grande pedra no caminho das quatro, porém, são os dinossauros que presidem ou mantém o controle das legendas da cidade. Muitos acostumados a métricas menos precisas, como herança política, hierarquias partidárias e, claro, o bom e velho rostinho bonito que – dizem os marqueteiros dos anos 1990 – servem para as eleitoras verem o candidato como potencial genro.

Muitos dos que pensam assim – e que vão listar inúmeras razões pelas quais as quatro mulheres seriam “inviáveis” como candidatas a prefeita – endossaram o tapinha nas costas dos partidos que desrespeitaram as cotas de distribuição do fundo eleitoral para candidatas mulheres e negros.

Mas a história não anda para trás e a terra que pariu Deltan, pariu também Enedina Alves Marques. Quem terá coragem de apostar na evolução de Curitiba? O futuro, como se diz, é uma mulher.

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