O pulso paranista ainda pulsa na Série D

Restam quatro jogos. Serão as quatro semanas mais importantes dos últimos tempos para o Paraná Clube

O último sábado foi um daqueles dias para ficar para sempre marcado na memória de quem foi à Vila Capanema. Para o Paraná Clube valia a sua sobrevivência na Série D, o futuro do clube em jogo mesmo. Um jogo contra o FC Cascavel de oportunidades, de reviravoltas e de um sentimento de emoção que transbordou entre todos os paranistas.

Como setorista do Paraná Clube, este será um dos jogos que com certeza vou lembrar por muitos e muitos anos. Desde o rebaixamento fatídico no Paranaense, diretoria, comissão e atletas não cansam de falar: “temos apenas um tiro e não podemos errar”.

E foi com esse sentimento que todo mundo saiu de casa no sábado rumo à Vila Capanema. Ao entrevistar torcedores antes do jogo, fiz questão de enfatizar que, durante os 90 minutos, muita coisa estava em jogo. Um insucesso do Paraná nas próximas horas faria com que o clube voltasse a ter calendário somente em 2025.

Por isso, o sentimento era de apreensão, mas também de confiança entre os paranistas. E a Vila Capanema estava linda, como há muito tempo não se via. E como foi bom ver famílias chegando juntas ao estádio. Torcida e time criaram, nesta Série D, uma sinergia espetacular e que está dando resultado.

Com a bola rolando, o jogo foi praticamente de um time só. O FC Cascavel veio disposto a levar a disputa para as penalidades. Criou, durante toda a partida, apenas uma chance, em um contra-ataque. O Paraná Clube buscou mais o gol e teve nos pés de Rafael Silva, em uma penalidade nos primeiros minutos do segundo tempo, a chance de aliviar um pouco o clima de tensão das arquibancadas.

A bola não entrou e ali estava criado todo o enredo de um filme de drama misturado com suspense. Apreensão, agonia, torcedor rezando, roendo as unhas. Teve aquele que nem queria ver mais o jogo. Bom, a disputa de pênaltis foi inevitável.

Nos pés dos jogadores e nas mãos do goleiro Felipe a sobrevivência do Paraná Clube na Série D. Vi torcedor de joelhos rezando. Algumas esposas dos jogadores, entre elas do goleiro Felipe e do zagueiro Dirceu, já em lágrimas. Só comprovando um pouco do que tenho falado recentemente. De como esse elenco está comprometido com esse objetivo de recolocar o clube de volta na Série C.

Nas cobranças de penalidades, a participação do Paraná Clube esteve por um fio de acabar. Falei sobre o filme e então vamos a uma das “cenas” mais emblemáticas desse drama azul, vermelho e branco. Na disputa, 3×2 para o FC Cascavel e o time paranista faria a quinta cobrança. O mesmo Rafael Silva, que desperdiçou a penalidade nos 90 minutos, tinha a missão de deixar o Tricolor respirando.

Quem viveu o Paraná Clube nos últimos anos poderia pensar: “pronto, o final trágico está desenhado”. Mas o camisa 9 paranista contrariou qualquer perspectiva negativa. Com muita (mas muita mesmo) personalidade e frieza, talvez mais que o inverno de Curitiba, Rafael Silva empatou tudo.

Mas ainda o milagre precisava acontecer. E aí vem mais um personagem à parte dessa classificação. Não qualquer personagem. Talvez o protagonista da história que o Paraná Clube está escrevendo nesta Série D. 38 anos, campeão por onde passou, jogou no Flamengo e no Corinthians, as duas maiores torcidas do país. Sim, o goleiro Felipe tinha que evitar o gol da Serpente. E foi o que ele fez. Gama bateu no canto, mas o paredão, como é conhecido entre os tricolores, voou, alcançou a bola, que ainda bateu na trave e saiu.

Pronto! O Paraná Clube ainda estava vivo. A apreensão se transformou em esperança. Veio, então, as cobranças alternadas. Lucas Oliveira, reserva em toda a Série D e que entrou no time nesta reta decisiva da competição com a missão de substituir André Krobel, fez valer a lei do ex. Ele, que veio da Serpente, deixou o Tricolor em vantagem. Mas Giaretta também converteu para os visitantes. Felipe quase alcançou. Aliás, o camisa 1 acertou todos os cantos nas cobranças do adversário.

João Felipe, jovem ainda, penúltimo reforço contratado e que entrou para mudar a cara do Paraná no segundo tempo, bateu com segurança, com personalidade e jogou de novo a responsabilidade para o lado da Serpente. E pra fechar esse filme com tons de dramaticidade, Léo Itaperuna, aquele mesmo que jogou por aqui em 2018 e nunca caiu nas graças do torcedor foi para a sétima cobrança do FCC.

Nas voltas que o mundo dá, Léo Itaperuna sentiu a pressão. Sentiu as vaias e a Vila Capanema pulsando. Não contava com um paredão na sua frente. Felipe defendeu a cobrança, colocou o Paraná Clube nas oitavas de final da Série D e manteve o Tricolor respirando. Não tinha um torcedor que não estava emocionado. Dos mais jovens aos mais velhos. Muitos chorando como crianças. Algumas pessoas passando mal de verdade. Todos sabedores da importância dessa classificação.

Sim, o pulso paranista ainda pulsa. O último tiro nessa guerra chamada Série D do Campeonato Brasileiro ainda não foi desperdiçado. A bala está intacta. Restam quatro jogos. Quatro decisões. Quatro batalhas. Serão as quatro semanas mais importantes dos últimos tempos para o Paraná Clube. E que assim como sábado, o final desse filme possa ser com um final feliz para o torcedor tricolor. Um clube que nasceu gigante e que tem essa torcida apaixonada não pode, jamais, cair no esquecimento. O futebol agradece.

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