Quando o repórter quase vira notícia

O repórter bateu na porta do suposto SNI e foi escorraçado rapidinho

Como em qualquer profissão, o jornalismo tem seus percalços e, conforme o caso, o leitor não ficará sabendo na edição do dia seguinte 

Como se sabe, nos tempos da ditadura civil/militar de 64, no dia 13 de junho daquele ano os (então) donos do poder criaram, via decreto-lei número 4.341, o SNI – Serviço Nacional de Informações. Objetivo: “supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil e exterior”. 

Pouco tempo depois, em Curitiba, um (então) jovem repórter foi pautado para fazer uma matéria sobre a instalação de uma agência do SNI na capital. Endereço anotado, um edifício, quase na Praça Santos Andrade. E lá foi o jornalista. Segundo andar, apartamento 21. Toca a campainha, um agente abre a porta e o jovem imediatamente se identifica: 

– Boa tarde. Sou repórter do jornal… 

Não consegue concluir.  O agente começou a esbravejar, tão apavorado quanto o repórter: 

– O que você está fazendo aqui? Suma já daqui, fora, rua! 

Antes de acabar virando notícia, o repórter tratou de tirar o time. Consolo – já na redação, pôde confirmar: o SNI já chegou a Curitiba. 

Para evitar o pior 

Há outro episódio, desta vez (quase) envolvendo a Polícia Civil. Certo dia, nos anos 70, a redação recebe um telefonema. Do outro lado da linha, o titular da Delegacia Antitóxico. Quer falar com o chefe de redação.  

E aí, meio sem jeito, o policial, quase implorando, relatou um episódio: o repórter que cobria o setor simplesmente afanou um baita pacote de maconha, que estava no depósito da delegacia. Foi simples e rápido: surrupiou a droga e jogou a dita cuja pela janela para o fotógrafo do jornal que, já sabendo da criminosa molecagem, aguardava a erva no pátio da delegacia. Ato seguinte, o repórter, alegando que ia continuar a ronda, passando por outras delegacias, despediu-se dos policiais e tratou de tirar o time. 

Não muito depois, um agente alertou o delegado: sumiu aquela maconha apreendida ontem à noite. A dedução do delegado foi imediata. E, para não criar um duplo problema (para ele e para o jornal), tratou de fazer o apelo à chefia de redação. E foi prontamente atendido: quando o repórter chegou, anunciando para o chefe de reportagem que não havia nada de novo nas delegacias, foi chamado pelo chefe de redação: 

– Tem uma pauta pra você cumprir imediatamente… 

– Qual é? 

– Ainda não é, mas pode virar assunto para manchete da página policial. Volte imediatamente à delegacia e devolva a droga. Caso contrário, pode ir direto para o departamento de pessoal assinar a carta de demissão.  

E a pauta totalmente fora de pauta foi prontamente cumprida. Horas depois, o delegado ligava novamente: 

– Obrigado pela ajuda! Caso encerrado…

– Encerrado aí e aqui.  

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