Para identificar os grupos menos informados da população diante da pandemia, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) integra um estudo nacional sobre ‘A Comunicação no enfrentamento à Covid-19’. O resultado mostra que, entre as pessoas entrevistadas que disseram aprovar o governo de Jair Bolsonaro, 8,7% não estão nada preocupadas com a Covid-19. Entre os que desaprovam o governo, apenas 1,4% estão despreocupados com a pandemia.
Já entre os muito preocupados com a doença, 21% são eleitores de Bolsonaro e 44,8% são contrários ao governo. A pesquisa foi realizada com 2.771 eleitores entre os dias 23 de setembro e 2 de outubro e envolveu também a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade de Brasília (CPS/UnB) e a Western University, do Canadá.
“Os brasileiros que aprovam o desempenho do governo são menos informados [sobre a Covid-19] que os que reprovam a atual gestão. Esse resultado parece concordar claramente com o conteúdo da narrativa do presidente, que tem negado a gravidade da pandemia”, avalia o coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília, Wladimir Gramacho.
Vacina e informação
A mesma lógica é aplicada à intenção de vacinação. Entre os participantes que classificam o governo como bom ou ótimo, a intenção de tomar a vacina contra o coronavírus é de 54.5%; entre os que classificam o governo como ruim ou péssimo, 79.2% pretendem se vacinar contra a Covid-19.
“Seguidores de líderes políticos displicentes com medidas de segurança não precisariam adotar o mesmo comportamento se conseguissem manter algum distanciamento do mundo ideológico e ficassem mais conectados com a realidade fática”, afirma o professor e pesquisador da UFPR Emerson Urizzi Cervi, que participou do estudo.
Ele diz ainda que há nestes eleitores uma descrença em todas as instituições que organizam a sociedade, inclusive nos meios de comunicação, e que isso ocorre porque as pessoas sentem-se seguras, moram em locais aparentemente protegidos, têm saúde e estão inseridas na sociedade de consumo. “Isso faz com que elas desconsiderem fatores de risco.”
Segundo o estudo, há uma relação entre as fontes de informação dos participantes da pesquisa e o nível de conhecimento que tinham sobre o coronavírus. O grupo que sabia menos sobre a doença era o mesmo que declarou consumir mais informações pelas redes sociais como Facebook, Whatsapp e Instagram.
Os respondentes da pesquisa que são contrários ao trabalho do presidente possuem mais conhecimento sobre a doença. Eles acertaram 79.3% das questões sobre o vírus, enquanto os apoiadores do governo acertaram 69%.
Com informações de: Maria Fernanda Mileski e Maria Clara Braga