Candidaturas transexuais crescem 67% no Paraná

Entre as concorrentes, 30% são negras e 40% integram partidos de direita; Curitiba é a única capital com candidata "transgênera" na disputa pelo Executivo

O número de candidaturas transexuais no Brasil cresceu 216% em comparação com a eleição de 2016; no Paraná, o crescimento foi de 67%. Entre as candidatas do Estado, nove disputam vaga no Poder Legislativo e uma no Executivo. Delas, 30% se declaram negras e 40% integram partidos de direita. Curitiba é a única capital brasileira com uma candidata “transgênera” para a Prefeitura.

Na atual campanha para os municípios brasileiros há, ao menos, 281 candidaturas trans por todo país, contra 89 no pleito anterior. No Paraná, foram seis em 2016 e são 10 em 2020. Os dados são da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

O aumento exponencial de candidaturas é uma vitória para o movimento trans. Em 2016, oito das 89 candidaturas se efetivaram em cargos públicos ocupados. No Paraná, não foi eleita nenhuma das seis candidatas trans inscritas no pleito anterior.

Antes mesmo dos resultados a participação no pleito “é uma oportunidade para mostrar que mais pessoas tran podem fazer parte da política eleitoral e levar as pautas com que se importam ao público”, avalia Keila Simpson, presidente da Antra.

Diversidade entre os diversos

Entre os dados divulgados pela entidade, é possível ver que a maior parte das candidaturas (90%) são de travestis e mulheres trans. As concorrentes a vagas na política paranaense são todas dentro deste perfil. As dificuldades para homens transexuais ou pessoas com outra identidade trans são observados pela organização nacional.

Apesar de não ver motivos claros para isso ainda, Keila atribui a questão à maior presença das mulheres transexuais em movimentos políticos organizados e no fato da pesquisa ter limitações em alcançar a todos. O formulário na internet ficará aberto para reunir informações de candidaturas até 31 de outubro e os dados são constantemente atualizados.

Megg Oliveira, travesti preta, doutora em Educação, professora na Universidade Federal do Paraná (UFPR), ativista do movimento social de negros e negras e do movimento LGBT, também credita essa dificuldade de homens transexuais entrarem na política partidária à violência da sociedade. “Uma boa parte da militância de homens trans é menor porque eles têm medo de deixar de lado sua passibilidade e se expor como trans. Porque essa é uma sociedade muito violenta e assim eles conseguem se proteger”, avalia ela.

No que diz respeito à identidade étnico-racial das candidatas trans paranaenses, 30% se declaram como mulheres negras (pardas ou pretas). Assim, a maioria continua sendo branca, como as duas únicas que estão concorrendo a cargos públicos em Curitiba.

Esse é um cenário menos diverso do que o nacional no que diz respeito à eleição de 2020. Entre as candidaturas analisadas pela Antra, 69% se declaram pretas ou pardas. No entanto, entre o número de candidatos trans e cis a representação étnico-racial em Curitiba cresceu este ano.

Nas mais diferentes ideologias

Outro dado interessante é que as candidaturas brasileiras integram diversos partidos e vertentes políticas. Entre as pessoas que se candidataram a um cargo e se identificam como transexuais, a avaliação da Antra indica que 51% está em partidos da esquerda, 10,5% em agremiações do centro e 38,5%, da direita.

No Paraná, entre as 10 candidatas trans, de nove municípios, há associações a partidos de todos os aspectos políticos, aponta o estudo da Antra. Entre as paranaenses, 50% das candidaturas trans podem ser consideradas de esquerda, 40% de direita e 10% do centro. Confira:

CandidataCidadePartidoCargo pretendido
Letícia LanzCuritibaPSOLPrefeita
Melissa SouzaCuritibaPDTVereadora
Samira AndradeColomboDEMVereadora
Debora LeePonta GrossaPSLVereadora
Renata BorgesApucaranaPTVereadora
Jessica MagnoMaringáPTVereadora
ZazaPontal do ParanáPMNVereadora
Bruna FreitasUbiratãPSCVereadora
Lanna LengUraíDEMVereadora
Luísa ZansávioRibeirão ClaroMDBVereadora
Candidaturas transexuais no Paraná

A participação de candidaturas transexuais nos mais diferentes partidos reflete, segundo Megg Oliveira, as diversidades da própria população. “A comunidade trans não é homogênea. Somos diferentes, temos divergências. Então, mesmo uma candidatura dentro de um partido de extrema-direita, ainda é uma forma de resistência, de mudar a sociedade”, defende ela.

Foto: Renata Borges

Luísa Zansavio, do MDB de Ribeirão Claro, lembra que pessoas transexuais também fazem parte ativa das cidades. “Somos políticos e fazemos política diariamente, então podemos e devemos participar da vida pública.”

É um sentimento similar ao de Letícia Lanz, candidata “transgênera” do PSOL em Curitiba, que acredita que “esse é o momento de me colocar como cidadã, nesse momento histórico do país e do mundo”.

Um sentimento único entre as candidatas paranaenses é o de representação transexual dentro da política partidária. Para Samira Andrade, do DEM de Colombo, essa é uma “oportunidade única de lutar por uma classe abandonada e marginalizada”.

Além disso, é uma chance de produzir resultados diretos para a população LGBT, como defende Debora Lee, do PSL de Ponta Grossa. “É dessa forma que vamos construir políticas públicas no Legislativo, pensando na Educação e na Saúde dessas pessoas com empoderamento”, diz ela.

Avanço e espaço social

Outro ponto levantado pelas candidatas trans é o significado destas candidaturas em sociedades tradicionais, como as das cidades paranaenses. “É motivadora a ideia de ser a primeira vereadora trans em uma cidade extremamente conservadora como esta”, diz Jéssica Magno, do PT de Maringá.

Sua colega de partido, Renata Borges, de Apucarana, também acredita no protagonismo das mulheres transexuais e travestis. “Não me sinto representada por nenhum candidato ou candidata da minha cidade, o que eu defendo é o reconhecimento e acessibilidade da minha população.”

A conquista de espaço é o que o movimento trans busca nesta eleição. A travesti e doutora em Educação da UFPR explica que o protagonismo no Paraná é muito difícil, então as candidaturas dessas mulheres enfrentam ainda mais barreiras. “A sociedade paranaense é muito excludente, racista e transfóbica. Assim, é muito difícil conseguirmos espaço, conseguirmos circular e lutar contra o silenciamento”, aponta Megg Oliveira.

Desta forma, o crescimento de candidaturas transexuais é algo a se comemorar para o movimento e para a Antra. “Este é um caminho sem volta. A população trans não vai aceitar mais não participar da vida política desse país”, conclui a presidente da entidade.

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