Essa é uma história única e muito feliz. Imagine um cara lindo, de verdade. Um dia ele encontrou sua alma gêmea, uma pessoa elegante e sem igual. Eles se amaram e foram felizes para sempre.
Fim
Fim?
Mais ou menos.
Vamos rever como você leu a história?
– Quando você leu “cara lindo”: ele era magro? Era necessariamente alto? Qual era a cor de sua pele? Ele tinha alguma deficiência ou isso não encaixa no nosso “lindo”?
– Quando você leu “alma gêmea”: imediatamente era uma mulher?
– Quando você leu “pessoa elegante”: você achou que a pessoa era rica? Dinheiro é o diferencial para a elegância?
– Quando você leu “sem igual”: você imaginou que era uma pessoa exatamente igual ao estereótipo de beleza de revistas de moda ou de filme pornô?
– Quando você leu “eles se amaram”: quais são as ações ligadas ao verbo amar? Sexo? Respeito? Distância? (durante a nossa pandemia, distância é um ato de amor).
– Quando você leu “para sempre”: quanto tempo foi? Para sempre tem que ser até o fim da vida? Se esse amor durou algumas semanas, meses, anos, esse amor não valeu?
Agora, a última coisa: quando você leu essa contestação do que a gente entende no texto, você achou que era eu apontado o dedo contra você, a pessoa errada, enquanto eu, a pessoa certa, leu tudo da melhor maneira possível? Você acha que as pessoas escrevem essas coisas para lembrarem a si mesmos dos preconceitos inerentes ao uso de linguagem?
Lutar contra preconceitos não é mágica, é exercício continuado.