“Espelho, espelho meu, existe alguém mais importante, evoluída e consciente do que eu?”
Talvez estas palavras representem melhor a orgulhosa humanidade moderna, subjacente à personagem Rainha Má, da Branca de Neve, do que a simples preocupação estética, revelada na versão tradicional do conto. Tamanho pedantismo, entretanto, teria sofrido bordoadas ao longo da história recente.
O heliocentrismo de Nicolau Copérnico, no século XVI, teria iniciado a sequência de golpes, retirando a morada da espécie humana, egocêntrica e cheia de si, do centro do universo.
Após essa ferida cósmica, uma afronta biológica: somos apenas parte de um processo milenar de adaptação; produtos da adaptação de outros animais precedentes na escala evolutiva. Mas Charles Darwin não apagou as luzes.
A festa continuaria pelas mãos do mestre de cerimônias austríaco, Sigmund Freud, encarregado de despir a humanidade narcísica, retirando-a de seu trono racional.
Chega? Já fomos suficientemente humilhados? Quando virá a próxima revolução e qual será seu papel: dar o golpe de misericórdia ou soerguer a humanidade cujo orgulho se esfacelou?
Sobre o/a autor/a
Giovanni Guaragni
Giovanni é professor de filosofia do direito e levaria livros e chimarrão a uma ilha deserta.