Louis e Philippe: amigos trocam a França por Curitiba para fazer doces franceses clássicos

Sonho dos empresários, que comandam a confeitaria Louis Philippe, era morar num país tropical

Parece uma canção de Jorge Ben Jor, mas a história é real. “O sonho da minha vida era morar num país tropical”, diz o empresário francês Loïc Briand, 39 anos, que está radicado em Curitiba há seis anos e adotou o nome Louis. Seu amigo e colega Clement Philippe Dhuyser, 33, coincidentemente tinha o mesmo desejo: deixar a França para um destino aos trópicos.

Quando moravam em Saint Malo, cidade de 50 mil habitantes na região da Bretanha, no noroeste da França, – região famosa crepes, piratas, Asterix e Obelix -, os dois trabalhavam juntos num renomado restaurante local. Philippe era chef confeiteiro, enquanto Louis atuava como maître, uma espécie de gerente e anfitrião da casa.

Decoração minimalista na loja do Batel. Foto: Divulgação.

A próxima conversa parece a cena de um filme. “Um dia, eu estava esfregando uma taça atrás do balcão quando Philippe se aproximou: ‘você que é casado com uma brasileira?’ Sim, sou eu, respondi. ‘Então vamos fazer macarons no Brasil. Meu sonho é morar num país tropical'”, relembra Louis sobre como tudo começou.

Entre aquela primeira conversa até a realização do sonho, oito anos se passaram. Louis, casado com a brasileira Ticiana Milfont, nascida em São Mateus do Sul, mas criada em Curitiba, foi o primeiro a se mudar para o Brasil, há seis anos, sendo cinco deles passados na capital do Paraná e um no litoral do Ceará, onde trabalhou como administrador de uma pousada.

Philippe chegou há cerca de três anos com 15 malas, três filhos e a esposa francesa, Hélène Chene, que também trabalha na confeitaria. As duas famílias se estabeleceram em duas casas, uma ao lado da outra, num condomínio na Barreirinha. Ali fica também a cozinha da confeitaria.

Macarons de várias cores e sabores feitos pelo confeiteiro Philippe. Foto: Divulgação.

No início, sem ainda ter um ponto fixo, a dupla de amigos fez uma parceria com o restaurante A Caiçara, no Centro, e montou uma confeitaria temporária numa sala do casarão. Apesar do sucesso, a experiência foi interrompida pelo estouro da pandemia que obrigou os empresários a migrarem para o modelo de delivery.

A crise sanitária não impediu que, em agosto de 2020, Louis e Philippe juntassem os nomes e as forças, e abrissem a primeira loja física no Batel, sob a marca Louis Philippe. Menos de um ano depois, em julho de 2021, a dupla estreou a segunda casa no Alto da XV. O cardápio é o mesmo nas duas unidades e todas as comidas são preparadas na cozinha centralizada e distribuídas para as duas lojas.

“Não somos ortodoxos, mas gostamos do pilar do classicismo e entendemos que por sermos franceses que moram no exterior temos uma responsabilidade com a culinária e a cultura do nosso país”, explica Louis, sobre a linha da confeitaria seguida por eles.

Caixa com doces sortidos para o café da manhã (R$ 99,90). Foto: Divulgação.

A perfeição das sobremesas clássicas da França, exibidas no balcão, encanta os clientes: tem croissant (R$ 12), pain au chocolate (R$ 14,90), crepe (R$ 7,20), éclair de chocolate, de caramelo ou da estação (R$ 19,90), além de macarons de vários sabores (R$ 9,90 a unidade ou R$ 56,90 a caixa com seis docinhos).

Quem quiser fugir dos doces mais conhecidos, embora sem renunciar à tradição, pode experimentar o kouign-amann, torta típica da Bretanha, que na tradução do bretão significa bolo de manteiga: é uma massa folhada com manteiga e açúcar, caramelo e maçã, que lembra a mais célebre tarte tatin (R$ 15,80).

Ou ainda a torta bourdaloue de pera e creme de amêndoas (R$ 19,90), ou a paris-brest, feita com patê à choux (a mesma das carolinas) e recheio de creme confeiteiro saborizado com praliné de amêndoas.

Uma parte do cardápio é dedicada aos que Louis chama de “acidentes na cozinha”, ou seja, reaproveitamento de alguns ingredientes da confeitaria para pratos salgados, como quiches (R$ 18,90) e croustillant (literalmente “crocantezinho”), uma massa folhada que leva cobertura de gorgonzola ou de tomate e pesto de manjericão (a partir de R$ 17,90).

Três éclairs de diversos sabores e paris-brest. Foto: Divulgação.

Enquanto Philippe passa os dias na cozinha replicando receitas consagradas e criando novas, Louis é o rosto visível da empresa. De fala rápida e sotaque carregado, ele mistura vários assuntos durante a conversa, mas uma coisa gosta de frisar: “Não somos filhos de papai, estudamos em escolas públicas e sempre trabalhamos duro”, diz.

Por ter crescido na Argentina e morado no Canadá, Louis se considera cidadão do mundo – “não consigo entender as fronteira e a chatice dos vistos”, critica -, e vê seu futuro no Brasil.

Por isso, ele faz questão de destacar que a confeitaria só usa produtos de fornecedores locais. “É para fortalecer a economia local. Se tenho queijos maravilhosos, como os do Chico Queijo, aqui porque comprar um queijo francês importado? Não faz sentido. Quero contribuir com a economia local, meu filho é brasileiro, estou trabalhando para o futuro dele”, conclui.

As duas casas funcionam com atendimento presencial, retirada no balcão e delivery pelo aplicativo próprio da loja. Como as mesas são poucas e o espaço concorrido – chega a ter fila aos fins de semanas – a dupla planeja abrir uma casa maior, mas ainda sem data, nem local definido. Até breve ou, melhor dizer, à bientôt.

Serviço
Rua Camões 2034, Alto da XV, Curitiba – (41) 92004 3583. De terça-feira a sábado, das 8h30 às 19h; domingo das 8h30 às 17h. Instagram: @louisphilippe_oficial

Rua Cel. Dulcídio 1257, Batel, Curitiba – (41) 3095 9329 / 92002 2251. Segunda-feira das 9h às 18h; terça a sábado das 9h às 18h30h; domingo das 9h às 14h.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Louis e Philippe: amigos trocam a França por Curitiba para fazer doces franceses clássicos”

  1. Fernanda Evaristo Menegheti

    Parabéns pela linda história que encontrastes. Ao final da leitura lágrimas incontroláveis escorreram pelo meu rosto. Ando saudosa do Brasil.
    Amei tanto meu país mas ele não me amou como eu imaginava. Eu também “não consigo entender as fronteira e a chatice dos vistos”, mas não sou otimista pelo futuro com êxito e com mais oportunidades para todos, como anseiam Louis que vê seu futuro no Brasil . E as razões ….
    Fernanda Evaristo Menegheti
    Coimbra, Portugal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima