Um recado para quem assumir a prefeitura: é preciso cuidar mais dos bairros

Silvana Barbara, do Alto Boqueirão, diz o que espera da Prefeitura na nova gestão que começa no ano que vem

O Projeto Periferias Plurais, aproveitando o início do ano eleitoral, pediu a seus correspondentes de bairro que digam o que é preciso melhorar na cidade e o que o novo prefeito (ou a nova prefeita) precisará fazer. Essas abaixo são as respostas da Silvana Bárbara, que mora no Alto Boqueirão.

Qual seria a ação mais importante que a prefeitura poderia fazer pela tua região nos próximos quatro anos?
A ação mais importante que poderia ser realizada nos próximos anos para melhorar a região seria investimento em infraestrutura e serviços públicos. O que incluiria melhorias nas ruas, no sistema de saúde, revitalização de espaços públicos, limpeza de praças, melhor gestão de resíduos, expansão do sistema de transporte público e implementação de programas sociais e culturais para fortalecer os bairros da região.

Você acha que o atual prefeito conseguiu fazer melhorias para o teu bairro?
Para não dizer que não houve melhorias, o que posso considerar são as revitalizações e obras viárias, mas devido às manifestações antigas da população da região. Mesmo assim, as ruas que receberam novas pavimentações e melhorias nas sinalizações de trânsito foram as principais, que ligam um bairro a outro, ou que dão acesso a pontos comerciais importantes. Nas vias locais foram apenas realizadas “operações tapa-buracos”, como o próprio nome diz. A população até mesmo apelidou algumas ruas de “Colcha de Retalhos”, pois o que se vê são somente “remendos”.

A gente vê muita pobreza pelas ruas de Curitiba, e a pandemia parece ter agravado isso ainda mais. Que tipo de assistência essas pessoas poderiam receber?
Acredito que, para essas pessoas, a assistência precisa ser abrangente, que combine medidas a curto, médio e a longo prazo, para o enfrentamento das muitas dimensões de suas necessidades.

A curto prazo, considero importante a assistência emergencial, como distribuição de alimentos, acesso a cuidados médicos e apoio financeiro. A médio prazo, poderia fortalecer os sistemas de saúde e criar redes de segurança social. A longo prazo, na minha opinião é fundamental investir em educação, treinamento profissional e oportunidades de geração de emprego e renda, para reduzir o ciclo da pobreza. As parcerias entre governo, organizações da sociedade civil e setor privado poderia resultar em melhorias sustentáveis para o problema da extrema pobreza.

Você se sente representada por algum vereador?
De maneira geral, pela primeira vez sinto que estou sendo representada por alguém com mandato político: a vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta. Como integrante do Movimento de Mulheres Negras, pude acompanhar a construção da Mandata, formada por mulheres e com pautas que vão ao encontro de pessoas pretas e periféricas, como eu.

Acredito que a Mandata Preta desempenha um papel fundamental na representação e na defesa dos interesses das pessoas negras e de regiões periféricas de Curitiba. A meu ver, a sua presença no cenário político é bastante significativa, pois representa uma voz forte que se transforma em ações relacionadas aos grupos historicamente discriminados e marginalizados da sociedade, com a promoção da igualdade racial e social, destacando questões muitas vezes negligenciadas.

Contudo, falta uma representação como essa nos bairros, vereadoras e vereadores que residam na região, pois somente assim poderiam focar em demandas específicas.

O que um vereador poderia fazer pelas periferias na tua opinião?
Poderia e deveria fazer muito pelas periferias. Infelizmente, como muitas pessoas votam sempre “nos mesmos”, há pouca ou nenhuma representatividade diante dos problemas e demandas de cada bairro. Dessa forma, uma vereadora ou um vereador poderia legislar em prol de políticas públicas que visem a educação de qualidade na região, o acesso aos serviços de saúde eficientes e a geração de oportunidades locais de emprego e renda.

Também poderia trabalhar para fortalecer a infraestrutura nas periferias, para garantir saneamento básico, melhores condições de moradia e transporte público acessível. O valor da passagem de ônibus em Curitiba é exorbitante, a mais cara entre as capitais do Brasil. Isso com certeza limita o deslocamento da população de bairros periféricos até a região central, o que acaba fazendo apenas por necessidade de ir trabalhar.

Existem ações culturais relevantes promovidas pela prefeitura na tua região?
Essa questão esbarra na anterior, pois há pouquíssimas ações culturais promovidas pela Prefeitura na região, o que faz com que as pessoas tenham que se deslocar até o centro da cidade. Esporadicamente ocorrem algumas exposições, contação de histórias, peças de teatro e apresentações musicais nas Ruas das Cidadanias ou nos Centros da Juventude. Também têm as apresentações gratuitas do Circo da Cidade – Lona Zé Priguiça, mas muitas pessoas reclamam da falta de qualidade.

O problema é que com tão poucas opções, há a carência do fortalecimento da cultura para a população. O que parece é realmente um descaso, uma falta de compromisso em levar a oportunidade da cultura para as pessoas mais pobres. Até porque é mais fácil manipular um povo sem cultura.

E o que trago da relação com a questão anterior é o fato do valor da passagem de ônibus, pois Curitiba é uma cidade com alto nível de atividades culturais, porém concentradas na região central. Infelizmente, muitas pessoas dos bairros periféricos, em especial as mais vulneráveis, não vão gastar o pouco que têm com passagens para poder assistir a um evento cultural. E esse problema leva a mais essa carência. Como diz a música: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Você sente que se tiver uma crítica ou uma sugestão consegue ser ouvida pelo poder público? Tem exemplos?
Infelizmente a voz da população não é devidamente ouvida. Temos aqui na região muitos problemas, como os já citados, de infraestrutura e de serviços públicos. A Prefeitura disponibiliza canais para que a população expresse suas críticas e sugestões, como o 156, audiências públicas e consultas populares, mas a eficácia desses canais nem sempre é garantida.

São vários contatos com o 156, com reclamações sobre os problemas enfrentados pelas comunidades, mas muitas sem o devido retorno. E quando a população se manifesta por meio da mídia, não é raro a Prefeitura enviar uma Nota afirmando que tal melhoria “não está prevista” ou que “não há nada a ser feito” em uma determinada situação. É um completo descaso, que acontece até mesmo em ano de eleição.

Este texto é parte do projeto Periferias Plurais, em que o Plural abre espaço para jovens falarem de suas vidas e de suas comunidades. O projeto tem apoio do escritório de advocacia Gasam.

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3 comentários em “Um recado para quem assumir a prefeitura: é preciso cuidar mais dos bairros”

  1. No Alto Boqueirão realmente as ruas são remendadas demais. Mas no geral, entra prefeito, sai prefeito e nenhum cuida das calçadas, tão importantes para pessoas de todas as idades. Pessoas com deficiência ou idosas que moram em regiões periféricas acabam ficando em casa, porque torna-se perigoso andar pela comunidade.

  2. Convido o senhor prefeito a visitar a rua Rafael Vechione no bairro vista alegre. só remendo de péssima qualidade. Após a finalização do serviço, quando passa o primeiro carro o asfalto (remendo) cria fissura em sua estrutura.

  3. Nosso prefeito gosta de obrinhas para enganar o eleitorado, ainda mais com as eleições se aproximando. Na região do Mercado Municipal, a água da chuva, depois da infindável obra, agora invade as lojas. Genial.
    Lembremos: o Festival de Teatro de Curitiba, o mais importante do país, não tem apoio da prefeitura.
    As relações com as empresas de ônibus continuam como sempre, obscuras.
    Nosso prefeito não gosta da democracia.

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