Com desvio de ônibus, Vila Torres é punida por protestar contra PM

Urbs diz que Cabral-Portão evitará região por questões de segurança. Mas não é com a segurança da vila que estão preocupados

A URBS anunciou que decidiu alterar temporariamente a linha do ônibus que cruza a Vila Torres no trajeto entre o Terminal do Cabral e o Terminal do Portão. O motivo foram duas manifestações com intervalo de sete meses entre uma e outra.

Fui atrás de conferir cada uma das matérias publicadas sobre o assunto e todas parecem ter sido copiadas de um texto pronto enviado pelo responsável da URBS. Texto esse que cita até mesmo uma estimativa do valor que a empresa “perdeu” pela perda total dos dois ônibus incendiados.

No entanto, em nenhum momento o texto cita os motivos das manifestações: dois jovens desarmados foram mortos pela polícia, um no início de março e outro na última segunda (21/12). O jovem morto em março tinha 25 anos e foi assassinado dentro de sua casa.

Não cabe a mim validar ou não as manifestações populares diante do comportamento lamentável da polícia em direção à favela. As publicações tendenciosas insistem na justificativa de “segurança”. Mas a segurança de quem? Certamente não da população da Vila que, além de exposta diariamente à violência policial, ainda é punida por se manifestar contra casos de abuso.

Vale lembrar que há pouco mais de dois meses, em 13 de setembro, um policial atirou na ex-namorada e a manteve presa dentro de um carro por cerca de 5 horas antes de matá-la e tirar a própria vida em seguida. A polícia ficou cerca de cinco horas “negociando” com um homem que estava mantendo uma mulher ferida dentro de um carro no meio da Rua Guabirotuba. Um policial, afastado das funções por questões psicológicas mas que ainda mantinha sua arma em casa, não aceitava o término do relacionamento e atirou em uma mulher na frente da filha pequena dela. Há evidências em vídeo que mostram a polícia prolongando a cena, dialogando com um homem armado mantendo uma mulher baleada num carro em plena luz do dia. A mesma polícia que se acha no direito de entrar em uma casa da Vila Torres, a duas ou três quadras do local, e assassinar um homem desarmado.

A favela já deveria estar acostumada com o modo como nos tratam, mas nunca deixa de ser revoltante o quanto não se importam com as pessoas daqui.

É de se questionar se a rota do ônibus realmente foi alterada para a segurança da população, porque definitivamente os moradores daqui que usam diariamente a linha não estão se sentindo seguros.

Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, que convida seis jovens de Curitiba e região a falar sobre suas vidas e suas comunidades

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3 comentários em “Com desvio de ônibus, Vila Torres é punida por protestar contra PM”

  1. Se “(…) a policia tem que ser mais enérgica e preventiva”, como não deu conta de salvar aquela mulher que estava sendo mantida como refém POR UM POLICIAL?!

    Por que é que essa mesma polícia não dá conta de manter a sanidade mental dos seus trabalhadores, pra que eles não cometam CRIMES (motivados, muitas vezes, por questões psicológicas e psiquiátricas não resolvidas)?!

    Afinal de contas, Dionisio, “A sociedade não pode pagar pelos atos de uns e outros”, não é mesmo?

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