Pressão de estudantes faz deputados prometerem barrar extinção do Colégio Estadual

Principal escola da rede estadual, CEP tem desempenho muito superior à média estadual e estrutura própria de captação de recursos. Mas Ratinho Junior quer o fim de tudo isso

Maior e mais importante colégio da rede estadual de ensino do Paraná, o Colégio Estadual do Paraná (CEP) corre o risco de ver a história construída em 176 anos de existência e 48 anos de autonomia chegar ao fim sem direito a debate esta semana na Assembleia Legislativa. Um projeto de lei do governador reeleito Ratinho Júnior (PSD) retira o status de Órgão de Regime Especial do Colégio, com isso acabando com a autonomia da instituição para captar e gerir seus recursos.

O projeto foi enviado em plena segunda-feira de Copa do Mundo à Assembleia com pedido para tramitar em regime de urgência, ou seja, sem tempo para debates. Mas uma mobilização de última hora dos estudantes, que saíram do prédio histórico na João Gualberto e caminharam juntos até a frente da Assembleia Legislativa na terça, dia 22, fez os parlamentares da base do governo prometerem retirar do projeto de lei o artigo que acaba com o Colégio Estadual. Apesar da promessa, a retirada ainda não foi formalizada.

O texto passou rapidamente pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa na terça e chega hoje ao plenário do legislativo. Além de acabar com a autonomia do CEP, o projeto também prevê o fim da autarquia que gere a Biblioteca Pública do Paraná (BPP).

A autonomia é parte essencial do que faz do CEP não só um dos melhores colégios do Paraná, mas também um celeiro de formação de lideranças e estrelas de diversas áreas para o estado. É que como Órgão de Regime Especial a escola funciona como uma entidade separada da Secretaria de Estado da Educação (SEED), com liberdade para criar programas especiais, ofertar cursos e atividades fora do padrão da rede e financiar espaços de produção artísticas e de desenvolvimento científico e esportivo.

Tanta liberdade, porém, incomoda políticos de todas as inclinações. Em 2007 o então governador Roberto Requião (na época no PMDB, mas hoje no PT), comprou uma briga com os estudantes ao manter na direção do CEP Maria Madselva Feijes, que a comunidade escolar considerava pouco democrática. Durante o impasse os estudantes tomaram parte do prédio do CEP. Como é uma autarquia, a escolha do diretor é feita pelo governador do estado, ao invés de pelo voto dos estudantes e comunidade escolar.

Em 2016, durante o governo de Beto Richa (PSDB) o CEP foi cenário de uma das principais ocupações de escolas no Paraná contra a reforma que implantou o Novo Ensino Médio. Do movimento contra a privatização da Copel no governo de Jaime Lerner (DEM) em 2002 as manifestações de junho de 2013, os estudantes e a comunidade escolar do CEP sempre marcaram presença.

Tanta vida política acabou gestando muitas lideranças políticas do estado. As principais são o ex-presidente Jânio Quadros e os ex-governadores e ex-prefeitos de Curitiba Jaime Lerner e Roberto Requião. É também parte essencial da vida social e política da região do Centro Cívico onde está instalado. Os alunos estão acostumados a serem convocados a participar de grandes movimentos sociais que acontecem há poucas quadras dali, na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente à Assembléia Legislativa e o Palácio Iguaçu.

É de lá que saíram, por exemplo, grandes nomes da televisão e teatro nacionais, como Ary Fontoura, Odelair Rodrigues, Denise Stoklos, Letícia Sabatella e Luís Melo. Na literatura, o CEP recebeu em suas salas de aula e corredores os três principais nomes do Paraná na área: Dalton Trevisan, Paulo Leminski e Cristovão Tezza. O prédio histórico e icônico do colégio, que fica ao lado do Passeio Público, é cenário da ficção de Tezza e Trevisan.

Mais recentemente o colégio fez parte da história da atriz, cantora e compositora Marjorie Estiano e da cantora Karol Conká. Ambas com projeção nacional.

Casa de quase cinco mil alunos, o CEP oferece vagas nos anos finais do Ensino Fundamental, no Ensino Médio e em cursos técnicos em seis áreas. Além disso tem uma área de extensão que inclui um centro de línguas, curso de artes, práticas esportivas e o Observatório Astronômico. Caso a retirada do projeto se confirme, o Estadual continuará existindo no mesmo formato atual.

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